A estudante de medicina Ayanne, da Universidade Federal do Pará (UFPA), usou o TikTok para relatar um episódio de racismo sofrido durante uma prática de atendimento hospitalar vinculada ao curso de medicina. O caso ocorreu no corredor de um dos hospitais universitários da instituição — o Barros Barreto ou o Bettina Ferro — e viralizou nas redes sociais.
Segundo o relato da jovem, após atender pacientes, ela aguardava o professor no corredor para apresentar o caso, acompanhada de uma colega de turma. Nesse momento, um colega de curso (com quem ela não tem relação próxima) se aproximou e, sem cumprimentos, perguntou se ela estava com a chave do banheiro. Surpresa, ela perguntou de que chave se tratava. Ele então explicou que alguém da recepção havia dito que “a moça de blusa azul” estava com a chave.
Ayanne usava jaleco azul com seu nome e o curso bordados — diferente do uniforme da equipe terceirizada de limpeza. Ao perceber o equívoco, ela apontou para uma senhora próxima, que de fato trabalhava na limpeza, estava com uniforme completo e materiais em mãos.
Mesmo percebendo o erro, o colega não se desculpou. Apenas sorriu e foi embora. A estudante e sua amiga ficaram paralisadas, sem reação. Na saída do ambulatório, Ayanne questionou se teria sido racismo. A amiga confirmou: “Foi sim”.
“Na área da saúde, é hábito olhar o jaleco da pessoa para saber o nome e o curso. Ele ignorou isso”, relatou a amiga, que ainda afirmou conhecer o nome do rapaz. O caso deixou Ayanne abalada e a fez lembrar de outro episódio traumático: em um shopping, antes de sua transição capilar, foi confundida com funcionária de loja por uma cliente. No mesmo dia, foi abordada por um vendedor de rua que elogiou seu cabelo — um gesto que, segundo ela, foi como um alívio em meio ao desconforto.
Ayanne declarou que nunca imaginou passar por uma situação de racismo dentro da própria universidade. Até o momento, nem a UFPA nem a Faculdade de Medicina emitiram nota sobre o caso.
O que é racismo estrutural?
O racismo estrutural é um tipo de discriminação que está enraizado nas instituições, normas sociais e práticas cotidianas da sociedade. Ele se manifesta quando pessoas negras são constantemente colocadas em posições de inferioridade, independentemente de seu nível de escolaridade, competência ou contexto. No caso de Ayanne, mesmo sendo uma estudante de medicina, foi automaticamente associada a uma função subalterna apenas por ser negra — o que evidencia como o preconceito racial molda percepções, comportamentos e relações sociais. Trata-se de um problema coletivo, que vai além de ações individuais e exige mudanças profundas em toda a estrutura social.
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Com Informações: Para Web News