A proximidade da COP30, evento climático da ONU previsto para ocorrer em Belém em 2025, está provocando uma distorção drástica no mercado imobiliário da capital paraense. Um exemplo chocante veio à tona nesta semana: um apartamento de 57m² no bairro do Guamá, área periférica da cidade com graves problemas de saneamento básico, foi anunciado para aluguel por R$ 6.900 por dia. Isso mesmo, por dia.
O imóvel, com dois quartos e isento de IPTU, representa um caso extremo da especulação imobiliária que está se espalhando por toda Belém. Nas redes sociais, a revolta é geral. Moradores apontam que a ganância de proprietários e locadoras está transformando a cidade em um ambiente hostil não só para turistas, mas também para quem vive e trabalha nela.
“Que público essa gente espera que vá para a COP? A maioria são representantes de ONGs, pesquisadores, jornalistas, estudantes e ativistas. Não é um evento de elite milionária”, comentou uma internauta, após ver outro anúncio de apartamento na José Bonifácio — mesmo prédio onde há um ano o aluguel mensal era de R$ 5 mil — sendo ofertado agora por R$ 16 mil a diária.
Pressão além do turismo
Embora a especulação tenha ganhado força com a demanda provocada pela COP, os impactos já atingem em cheio a população paraense. Famílias que buscavam imóveis para alugar em bairros centrais e periféricos da cidade relatam que os preços estão simplesmente “fora da realidade”, mesmo em locais historicamente desvalorizados.
O fenômeno acende um alerta vermelho entre urbanistas, líderes comunitários e setores do turismo. “O que está acontecendo em Belém não é valorização natural do mercado, é uma bolha artificial baseada na expectativa de um evento internacional. E bolhas estouram”, afirma um especialista do setor imobiliário ouvido pela reportagem.
Risco à imagem internacional
A situação, como já abordado em matérias anteriores, está prejudicando a imagem internacional de Belém. Diversas delegações estrangeiras, de países do Sul Global e organizações ambientais, têm relatado dificuldades para encontrar acomodações viáveis e já houve ameaças de desistência ou mudança de sede da COP por parte de algumas comitivas.
Em vez de aproveitar a visibilidade internacional para fomentar o turismo sustentável e impulsionar a economia de maneira equilibrada, Belém pode estar cavando uma armadilha que compromete seu próprio protagonismo na agenda climática global.
“Meu medo é que, assim como ocorreu com os carros durante a pandemia, os preços dos imóveis nunca mais voltem ao normal — e o normal já era anormal”, desabafa um morador da capital.
Com Informações: Para Web News