O Pará é formado por elementos culturais que vão desde a música (com seus ritmos amazônicos) à gastronomia, reconhecida interncionalmente como uma das melhores do mundo.
“Para alguns uma iguaria, um prato típico que caiu no gosto do Brasil e do mundo, mas para nós vai muito além: o tacacá representa ancestralidade, história, cultura e o sustento da nossa família e de toda a cadeira de produtores familiares, quilombolas e ribeirinhos envolvidos”, define a presidente da Associação das Tacacazeiras e Comidas Típicas de Belém (Astacom), Ivonete Pantoja.
Como reconhecimento da importância do tacacá e das tradicionais vendedoras de comidas típicas espalhadas pela cidade, a Prefeitura de Belém instituiu no calendário municipal o Dia da Tacacazeira em 13 de setembro. Nesta data a Lei 8.979/2013 reconheceu essas vendedoras como patrimônio cultural imaterial do município de Belém.
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Neide Sobrinho, de 42 anos, já está na terceira geração de tacacazeiras. “Começou com minha avó que conseguiu uma barraca para trabalhar aqui na avenida Nazaré, depois passou para minha mãe e agora estou assumindo. Como não tive filha, também aproveito para repassar os ensinamentos às minhas sobrinhas. Tenho muito orgulho de ser tacacazeira e fico muito feliz pelo reconhecimento municipal. Agora a Astacom está lutando junto com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para o reconhecimento de patrimônio cultural imaterial em nível nacional”, destacou a vendedora.
A funcionária pública Gabriela Araújo, de 33 anos, costuma almoçar um tacacá. “O paraense é assim, mesmo com um calorzão desses tomamos tacacá. As tacacazeiras têm um valor sentimental muito grande para mim, pois desde pequena meus pais me levam para saborear as comidas regionais. Muito bom saber desse reconhecimento da categoria”, disse a cliente.
Expectativa é de alta nas vendas com o Círio e a COP 30
De acordo com a presidente da Astacom Ivonete Pantoja, tacacazeira há 40 anos no bairro de Nazaré, já é nítido o crescimento das vendas com as proximidades da quadra nazarena e da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30). “No mês de outubro nossas vendas costumam triplicar devido à grande quantidade de turistas. Nossa expectativa é que com a COP 30 o lucro seja ainda maior, principalmente porque todos de fora querem experimentar nosso famoso tacacá”, diz a vendedora.
Ao longo do ano, as tacacazeiras permissionárias da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (Sedcon) também têm a oportunidade de atuar nas festividades da agenda municipal, impulsionando ainda mais as vendas, como no Carnaval, Quadra Junina, Círio de Nazaré, Réveillon e agora, na Domingueira, que ocorre uma vez ao mês em bairros alternados da capital.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (Sedcon), estão cadastradas 190 permissionárias que atuam com vendas de comidas típicas, tendo como carro-chefe a comercialização do tacacá. As trabalhadoras atuam nas áreas centrais e periféricas e nos distritos de Outeiro, Icoaraci e Mosqueiro.
“A legalização para atuar nas vias públicas é importante para dar segurança a elas e aos consumidores, já que para ter autorização pela Sedcon para comercializar nas calçadas é necessário a tacacazeira possuir carteiras de saúde e de manipulação de alimentos, emitidas pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesma). Com a proximidade da COP 30, essa exigência se torna cada vez mais importante para garantir credibilidade quanto à manipulação e procedência dos alimentos. Queremos nossas tacacazeiras legalizadas e com o reconhecimento que elas merecem”, afirma o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, André Cunha.
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Sabor reconhecido internacionalmente
O tacacá é uma iguaria típica da culinária amazônica, especialmente popular no Pará, feita a partir de ingredientes regionais que carregam tradição e identidade cultural. Servido em cuias, o prato reúne tucupi — caldo extraído da mandioca brava e fervido para eliminar toxinas —, goma de tapioca, jambu e camarão seco. O jambu é responsável por uma das marcas registradas do tacacá: a sensação de leve dormência na boca, que surpreende e encanta quem prova pela primeira vez.
Mais do que um alimento, o tacacá é também um símbolo da cultura paraense, vendido em feiras, praças e esquinas de Belém e outras cidades da região. Geralmente servido quente, mesmo em dias de calor intenso, ele representa hospitalidade e tradição, reunindo pessoas ao redor das cuias. O prato é um verdadeiro patrimônio gastronômico da Amazônia e tem ganhado cada vez mais destaque no Brasil e no mundo.
Fonte: DOL