Descoberta sobre ação do paracetamol pode levar a analgésicos mais seguros

Descoberta sobre ação do paracetamol pode levar a analgésicos mais seguros

Um dos analgésicos mais vendidos no planeta, o paracetamol, princípio ativo do Tylenol, tem sido usado nos últimos 70 anos para aliviar a dor e reduzir a febre das pessoas. No entanto, até hoje, ninguém compreendeu totalmente o seu mecanismo de ação.

Agora, um novo estudo farmacológico, realizado por pesquisadores da Universidade de Indiana (IU), nos EUA, mostrou que o medicamento não alivia a dor aumentando as substâncias químicas naturais associadas ao bem-estar, como se pensava, mas sim diminuindo uma delas.

Publicado recentemente na revista Cell Reports Medicine, o trabalho teve como problema de pesquisa um paradoxo importante: embora o paracetamol cause cerca de 500 mortes anuais por overdose, nos Estados Unidos, ainda não foram desenvolvidas alternativas mais seguras para substituí-lo.

Como há indícios de que os endocanabinoides, moléculas que modulam a percepção da dor, podem ter um papel na ação do paracetamol, o estudo buscou examinar essa interação farmacológica.

Os resultados revelaram um mecanismo inteiramente inédito sobre a forma como o medicamento atua contra a dor, abrindo, eventualmente, caminho para o desenvolvimento de novos analgésicos, mais eficazes e com menos riscos de toxicidade.

Como os endocanabinoides funcionam no alívio da dor?

Resumo gráfico do estudo • Michaela Dvorakova et al., Cell Reports, Medicine, 2025

Descoberto por acaso no início da década de 1990, quando neurocientistas investigavam como o THC (tetra-hidrocanabinol) da maconha atuava no corpo humano, o sistema endocanabinoide funciona como uma rede de comunicação interna do nosso organismo, composta por três elementos principais.

Primeiramente, existem os receptores, espécie de “antenas” celulares que captam sinais químicos. Há também os endocanabinoides, moléculas que transportam mensagens entre células, e as enzimas que produzem e degradam esses mensageiros, depois que eles cumpriram sua função no organismo.

Essa estrutura atua como um “sistema modulador” que mantém o equilíbrio (homeostase) em processos como dor, humor, apetite, sono, resposta imune e memória. Retrógados, os endocanabinoides são produzidos “sob demanda” pela célula pós-sináptica e viajam de volta para modular a célula pré-sináptica.

“Até agora, pensávamos que endocanabinoides elevados em nosso corpo significavam menos dor, mas nosso estudo mostra que, no caso do [endocanabinoide] 2-AG, pode ser o oposto. Na verdade, níveis reduzidos de 2-AG levam à diminuição da dor, explica a primeira autora, Michaela Dvorakova, em comunicado.

Segundo os autores, o paracetamol bloqueia a enzima responsável pela produção de 2-araquidonoil glicerol, ou 2-AG. Este canabinoide natural ativa receptores no corpo conhecidos por influenciar a dor, o humor e até mesmo os efeitos da cannabis.

Uma versão mais segura de paracetamol?

Compreender o mecanismo de ação do paracetamol abre caminho para o desenvolvimento de analgésicos mais seguros • Harvard Medical School/Reprodução

A comunidade científica acreditava que o paracetamol funcionava aumentando os níveis dos endocanabinoides naturais no organismo, substâncias que ativam os receptores CB1 no cérebro, os mesmos estimulados pelos compostos psicoativos produzidos pela cannabis para aliviar a dor.

Para o coautor, Alex Straiker, pesquisador do Instituto Gill (centro de pesquisa em neurociências da IU), 50 anos de estudos consolidaram a ideia de que a ativação dos receptores, depois conhecidos como CB1, produz o alívio da dor, criando uma espécie de “dogma científico”, explica ele em um comunicado.

Desafiando completamente essas crenças estabelecidas, o novo estudo mostrou que o paracetamol na verdade inibe a enzima responsável pela produção do 2-AG. Paradoxalmente, a supressão da enzima (com “desligamento” do CB1) resultou em menos dor para os camundongos do experimento.

A toxicidade do paracetamol representa um grave problema de saúde pública: além de centenas de mortes, a overdose do medicamento é a segunda principal causa de transplante de fígado em todo o mundo. Por isso, afirmam os autores, compreender seus mecanismos de ação tornou-se tão urgente.

A grande dificuldade até agora, diz Straiker, era identificar o alvo. “Nossa pesquisa sugere que essa enzima pode ser o alvo, caso em que você pode começar a desenvolver medicamentos que tenham como alvo essa enzima específica, mas sem essa toxicidade”, comemora o neurocientista.

Com Informações: CNN Brasil

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