(FOLHAPRESS) – Alvo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes mantém uma rede de aliados na política brasileira que inclui até com apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Parte desses contatos vem da carreira pregressa de Moraes, que já foi secretário de administrações paulistas e filiado ao PSDB. A parcela mais relevante, porém, foi construída após ele chegar ao Supremo, como a relação com o presidente Lula (PT) e com a cúpula do Congresso.
Esses laços garantem influência sobre decisões políticas, apoio para emplacar aliados em espaços de poder e proteção contra investidas de adversários –como os seguidos pedidos de impeachment feitos por bolsonaristas no Senado.
Duas de suas relações mais próximas surgiram por conta desses ataques. Moraes janta quase semanalmente em Brasília com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e com o antecessor dele, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
A decisão de pautar o impeachment de um ministro do STF é do presidente do Senado. A oposição voltou a pressionar pela deposição de Moraes após ele determinar a prisão domiciliar de Bolsonaro e obteve o apoio público de 41 senadores para pedir o afastamento. Alcolumbre, de pronto, descartou qualquer iniciativa nesse sentido e disse que não dará aval nem se os demais 80 senadores assinarem o pedido.
A afinidade com Pacheco ocorreu por essa mesma relação institucional, quando o ministro ocupava a presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e o mineiro presidia o Senado. Esse período foi marcado por ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas, e os dois se alinharam para defendê-las.
O senador acompanhou a apuração pessoalmente, na sede da Justiça Eleitoral, o que lhe rendeu homenagens de Moraes. O ministro também organizou um jantar em sua casa com políticos para celebrar os quatro anos de gestão de Pacheco no Senado e estimulou honrarias ao mineiro no mundo jurídico.
Moraes também mantém contato com os ex-presidentes da Câmara Rodrigo Maia (sem partido) e Arthur Lira (PP-AL), ainda que, no segundo caso, a relação seja permeada por tensões.
Maia deixou a política e atualmente é presidente da Fin (Confederação Nacional das Instituições Financeiras), mas costuma ser procurado por representantes do Legislativo e do Judiciário para intermediar conversas em momentos de crise entre os Poderes.
Lira também fez esse papel durante sua gestão na presidência da Câmara. Um dos momentos de atrito foi quando o ministro mandou prender o agora ex-deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) sob acusação de ser mandante da morte da vereadora Marielle Franco. Lira e Moraes tiveram uma conversa franca e dura, nas palavras de aliados dos dois, terminando com a promessa de trabalhar pela harmonia entre os Poderes.
Desde a volta de Lula ao poder, o ministro também se aproximou do petista, com quem discutiu a nomeação de ministros para o TSE. Em julho, o presidente fez um jantar de desagravo ao ministro no Palácio da Alvorada contra as sanções impostas por Trump.
Sua relação mais antiga no atual governo é com Geraldo Alckmin (PSB), que lançou Moraes na política em 2002, ao nomeá-lo secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania no governo paulista. Os dois costumam conversar, apesar do estilo discreto do vice-presidente.
O ministro do STF já foi filiado ao PSDB, ao PFL (hoje parte do União Brasil) e ao PMDB (atual MDB). Dos tempos do tucanato, ele guardou como aliados os deputados federais Carlos Sampaio (hoje no PSD) e Paulo Alexandre Barbosa (PSDB). Assim como Moraes, “Carlão” também começou a carreira no Ministério Público paulista, e Barbosa foi secretário de Alckmin antes de se eleger prefeito de Santos (SP).
Em 2023, quando Barbosa virou deputado federal, o ministro telefonou para parlamentares tucanos para pedir votos para o amigo na eleição de líder da bancada do PSDB na Câmara, de acordo com políticos que receberam esses telefonemas. O apelo não deu certo, e Adolfo Viana (BA) acabou reeleito.
Outro momento em que o ministro atuou por um aliado foi quando, segundo a Folha apurou, ele procurou o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, para defender a filiação do secretário da Casa Civil do Distrito Federal, Gustavo Rocha.
Rocha foi ministro do governo Temer junto com Moraes. Ele quer concorrer como candidato a vice da atual vice-governadora, Celina Leão (PP), que assumirá o governo em abril, com a renúncia de Ibaneis Rocha (MDB) para disputar o Senado. A posição poderia cacifar Rocha para substituí-la em 2030. Procurado, Pereira afirmou que nunca foi contatado por nenhum deles.
Moraes é o relator dos processos sobre os ataques golpistas do 8 de janeiro de 2023 e, em março, arquivou o inquérito contra Ibaneis, seguindo recomendação da PGR (Procuradoria-Geral da República).
Apesar do antagonismo com Bolsonaro, o ministro do STF mantém contato com aliados do ex-presidente, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI).
Nogueira se recusou a assinar o pedido de impeachment do ministro no Senado, com o argumento de que a pauta não tem chance de prosperar. Com o gesto, o parlamentar busca se manter como uma ponte entre os dois grupos.
Quando Bolsonaro perdeu a eleição, o presidente do PP era o chefe da Casa Civil e tentou um armistício entre Moraes e Bolsonaro. Nogueira convenceu o então presidente buscar uma trégua e, uma semana antes do Natal, recebeu ele e o ministro do STF em sua mansão para uma conversa. Depois disso, o 8 de Janeiro poria fim a qualquer tipo de negociação, segundo aliados.
Tarcísio se equilibra entre Bolsonaro e Moraes. O governador de São Paulo fez um gesto ao ministro ao consultá-lo sobre a indicação à chefia do Ministério Público paulista. Escolheu Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, que era o terceiro da lista tríplice, mas contava com o apoio do magistrado.
Moraes, de acordo com aliados, considera Tarcísio preparado, mas a relação tem seus atritos devido à defesa que o governador faz do ex-presidente, que o lançou na política e pode apadrinhá-lo como sucessor.
Outro dirigente de partido com quem Moraes mantém relação próxima é o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força (SP). Eles se conhecem desde que o ministro advogava em São Paulo, e a amizade se estreitou quando atuaram juntos contra a proposta do voto impresso.
Moraes foi decisivo para reverter uma condenação criminal de Paulinho. O deputado tinha sido condenado na Primeira Turma do STF por crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Mas, no plenário, o ministro liderou o voto vencedor que anulou o julgamento por 6 votos a 3.
O ministro chegou ao Supremo por indicação do ex-presidente Michel Temer (MDB). A proximidade entre os dois começou quando um hacker tentou extorquir a esposa do emedebista, ao ameaçar revelar um áudio que o prejudicaria. Moraes era o secretário de Segurança Pública de São Paulo, montou uma força tarefa e foi atrás do criminoso. A atuação o fez ser escolhido ministro da Justiça e depois indicado à corte.
Nem todas as relações políticas do ministro, contudo, acabaram bem. Ele já foi muito próximo do presidente do PSD, Gilberto Kassab, de quem foi um “supersecretário” na Prefeitura de São Paulo. Mas eles se desentenderam, e Moraes foi demitido e atuou como advogado por quatro anos até voltar à vida pública como secretário da Segurança do governo Alckmin –outro desafeto de Kassab.
Em reunião com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, Eduardo diz ter enfatizado que os ganhos financeiros da família do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), têm grande participação da mulher do magistrado, Viviani Barci, como advogada
Folhapress | 11:05 – 16/08/2025
Fonte: Notícias ao Minuto