Um levantamento do Instituto Escolhas mostrou que Belém possui alto potencial para produzir alimentos em áreas urbanas e periurbanas, aproveitando espaços ociosos, quintais, terrenos baldios e até antigas fábricas abandonadas. Segundo o estudo, a capital paraense poderia gerar alimentos para abastecer até 1,7 milhão de pessoas por ano — número superior à própria população da cidade, que é de cerca de 1,5 milhão de habitantes.
A presidente do Instituto, Jaqueline Ferreira, aponta que essa produção depende de investimentos em empreendimentos já existentes e na expansão da agricultura urbana. Um dos casos mapeados foi o bairro Tenoné, em Icoaraci, onde 48 hectares de áreas disponíveis poderiam render mais de 2,6 mil toneladas de alimentos por ano, beneficiando até 230 mil pessoas.
A pesquisa também revelou que 80% dos alimentos vendidos na Ceasa do Pará vêm de outros estados, aumentando os custos e a vulnerabilidade diante de oscilações de preço ou problemas de logística. “É um contrassenso importar alimentos de mais de 2 mil km de distância quando temos potencial de produção aqui mesmo, em Belém”, diz Jaqueline.
Horta onde era a Phebo
No Centro da cidade, o projeto “Irmãs da Horta” é exemplo concreto desse novo modelo. Criado durante a pandemia, o coletivo ocupa as ruínas de uma antiga fábrica de sabonetes Phebo, hoje sob responsabilidade de um shopping, e transforma o local em uma horta urbana agroecológica.
A idealizadora do projeto, Zira Silva, relembra que começou a plantar para escapar da fome. Hoje, cultiva pitaias, cana, banana, acerola, maracujá e hortaliças como alface e rúcula — tudo sem agrotóxicos. “Comecei no fundo do quintal, criando galinhas saudáveis, e fui vendo que era possível alimentar minha família com o que vinha da terra. Agora quero fazer o mesmo por outras pessoas”, relata.
As antigas caldeiras da fábrica, que antes produziam sabonetes, hoje são canteiros. Zira sonha em construir estufas e transformar outros espaços abandonados do centro em centros de produção de alimentos. “Se tivéssemos apoio, faríamos algo ainda maior. Já provamos que dá certo. Precisamos de investimento para continuar.”
Além da produção de alimentos, o coletivo também realiza oficinas, cursos e promove a valorização da cultura alimentar amazônica, empoderando mulheres e fortalecendo os laços comunitários. O próximo passo é ocupar praças públicas e envolver ainda mais moradores no cultivo coletivo.
Combate à fome no Pará
O Pará registrou, em 2023, a maior taxa de insegurança alimentar do Brasil, com 20,3% dos domicílios em situação moderada ou grave, segundo o IBGE. A agricultura urbana surge, assim, como alternativa estratégica para combater a fome, gerar renda e reduzir a dependência de outras regiões.
Com Informações: Para Web News