Em uma reportagem extensa publicada pela revista Travel + Leisure, Belém é apresentada como “o destino gastronômico mais dinâmico do Brasil”. O texto traça um panorama profundo da cena culinária paraense, exaltando desde ingredientes indígenas até restaurantes sofisticados, além de relacionar a gastronomia local a temas de sustentabilidade e memória cultural.
Sabores da Amazônia e pratos ancestrais
No almoço descrito pela jornalista da Travel + Leisure, a escolha foi o menu degustação do restaurante Iacitata Amazônia Viva, comandado pela chef Tainá Marajoara. Ela serve seus pratos em cuias — vasilhas tradicionais feitas de cabaça seca — e traz para a mesa preparações como coração de palmeira de açaí desfiado e pedaços crocantes de búfalo frito, provindos da ilha de Marajó. Um dos destaques é o kanhapira: medalhão de filhote (peixe amazônico) em molho de tucumã fermentado, prato raro até mesmo em Belém. Para Marajoara, esse é um modo de manter viva a cultura amazônica.
Mercado Ver-o-Peso e ingredientes locais
A jornalista também percorre o Ver-o-Peso, principal mercado de Belém, e descreve uma variedade impressionante de ingredientes: peixes defumados e salgados de comunidades ribeirinhas, garrafas de tucupi (fermentado de mandioca), folhas de jambu — que têm sabor peculiar e provocam formigamento — e açaí escuro, consumido na região não como sobremesa, mas junto com peixe frito. A publicação menciona ainda que cerca de 90% do açaí mundial é produzido no Pará.
Influências históricas e culturais
A matéria da Travel + Leisure reforça que Belém é um porto histórico — fundado pelos portugueses em 1616 — e que o intercâmbio cultural moldou sua gastronomia. Por exemplo, o lombo de porco assado servido na tradicional padaria A Bijou, é herança portuguesa. Já os espetinhos assados com molho de soja nas ruas da cidade têm origem na imigração japonesa a partir da década de 1930.
No entorno do mercado, a reportagem destaca a Barraca da Fafá, uma barraca tradicional que serve pratos indígenas como a maniçoba — uma iguaria feita com folhas de mandioca cozidas por dias para eliminar toxinas, combinadas com carnes defumadas.
Transformação social e valorização dos pratos tradicionais
Por muito tempo, pratos como farinha de mandioca e açaí tradicional foram negligenciados pela elite local, considerados “comida de pobre”. O chef Thiago Castanho, do restaurante Remanso do Peixe, relembra que muitos sentiam vergonha de pedir esses alimentos em restaurantes.
Entretanto, nos últimos anos, o cenário mudou: chefs e pioneiros, como o saudoso Paulo Martins, começaram a convidar cozinheiros de todo o Brasil para valorizar as receitas amazônicas. A chegada de Tainá Marajoara e o retorno de Castanho após experiências fora da região ajudaram a internacionalizar a gastronomia paraense.
Alta gastronomia paraense e coquetelaria regional
A Travel + Leisure também exalta restaurantes de maior sofisticação, como o Santa Chicória, liderado pelos chefs Ilca Carmo e Paulo Anijar, que incluem em seus menus pratos como filhote com pesto de jambu, gratin de mandioca com burrata de Marajó, entre outros.
No bar Muamba, o proprietário Yvens Penna inova nos drinques: uma margarita clássica ganha um toque amazônico com refrigerante caseiro de chicória, feito de uma erva local com sabor intenso semelhante ao coentro.
Conexão entre gastronomia e sustentabilidade
Um ponto central da reportagem é a relação entre a cultura alimentar amazônica e a sustentabilidade. Segundo Tainá Marajoara, as técnicas ancestrais usadas na culinária da região — como fermentações e uso de plantas locais — são “tecnologia” para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Para ela, não se trata de gastronomia molecular, mas de saber tradicional que já atua como solução.
A presença de Belém na COP30 também é mencionada: a conferência climática reforça a importância da Amazônia e posiciona a culinária paraense como parte das discussões sobre preservação e uso sustentável dos recursos naturais.
Locais imperdíveis mencionados
- Feira da 25, onde a jornalista prova a famosa tapioca molhada da “Tapioca da Dina” — uma crepe de mandioca recheada com coco e banhada em leite de coco, tradição local com mais de 50 anos.
- Restô da Villa Prime, em Icoaraci, comandado pelo chef Osvaldo Farias, onde são servidos pratos emblemáticos como caldeirada de tucupi e caranguejo desfiado em cuias de cerâmica feitas por artesãos locais. Segundo Farias, esses sabores só existem ali e são motivo de orgulho para a comunidade.
- Cas’Amazonia Brasil, pousada hospedada em casarão restaurado do início do século XX, que é administrada por Jô Alves e Fernanda Stefani. A casa também funciona como exportadora de ingredientes amazônicos, por meio da empresa 100% Amazônia, que trabalha com comunidades locais.
Orgulho local e preservação cultural
Para o influenciador e historiador gastronômico Marcos Medici, o reconhecimento de Belém pela Travel + Leisure não vem apenas dos restaurantes sofisticados, mas principalmente dos lugares simples, como o Remanso do Peixe e a cantina Café Bolonha. Ele enfatiza que foram as classes populares e periféricas que mantiveram vivas as receitas tradicionais, mesmo sem o apoio das elites.
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