SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Comitê Nacional de Greve na Colômbia anunciou nesta terça-feira (15) a suspensão temporária até 20 de julho das mobilizações que há mais de um mês tomaram o país. A expectativa, no entanto, é que protestos continuem acontecendo, pois a organização não representa todos os que vão às ruas.
À Blu Radio, Francisco Maltés, um dos porta-vozes do comitê, disse que seriam interrompidas as mobilizações feitas às quarta-feiras. Em 20 de julho, Dia da Independência da Colômbia, ele anunciou que o comitê irá convocar uma grande mobilização no Congresso para entregar projetos de lei.
Sem dar mais detalhes sobre o conteúdo das propostas, o comitê garantiu que, durante este mês, irá recolher as reivindicações da população.
Os colombianos têm protestado desde 28 de abril. Inicialmente, os atos eram contra a reforma tributária proposta pelo presidente Iván Duque. Apesar de ele ter retirado o projeto legislativo, a violenta repressão aos protestos –ao menos 61 já morreram no período– seguiu alimentando o descontentamento.
Desde então, os atos se multiplicaram, sem agenda ou direção definida, mas com demandas que exigem um país mais justo e um Estado mais solidário e que garanta vida e segurança diante dos estragos causados pela pandemia, que arrastou para a pobreza 42% da população.
Pela diversidade de atores por trás das mobilizações, o anúncio da suspensão pelo comitê não significa o fim dos protestos no país, ainda que a organização seja sua frente mais visível. Maltés afirmou que os atos continuarão "porque as razões por trás deles ainda estão aí". Sindicatos, estudantes, indígenas e organizações sociais compõem o comitê, criado em 2019.
Já o presidente da Confederação Nacional do Trabalho (CGT), Percy Paola, disse que alguns movimentos vão seguir nas ruas, segundo o jornal El País, e pediu proteção para eles e para os jovens que negociam com autoridades locais.
Após o anúncio, o conselheiro presidencial, Emilio Archila, indicou que o governo vai garantir a realização de protestos pacíficos e pontuou a reforma policial anunciada por Duque. Ele também ressaltou que o comitê não representa todos os que foram às ruas protestar ao destacar o diálogo que o governo mantém com diferentes organizações.
Archila disse ainda que o governo "não está convidando o comitê para nada" ao criticar a decisão da organização de suspender o diálogo. "Tínhamos toda a disposição, vínhamos trabalhando com eles [o comitê], o mesmo que temos feito com todas as outras frentes", afirmou. "Agora vemos que estão pensando em agir diferente e não há nenhuma necessidade de nós os convidarmos."
O Comitê de Greve interrompeu no começo de junho as conversas que mantinha desde o início de maio com o governo Duque sem chegar a um acordo para desativar a crise.
A organização exigia uma condenação explícita da brutalidade policial e um pedido de desculpas pelos excessos. Por sua vez, o governo defendeu o fim dos bloqueios de estradas como condição para o avanço das negociações.
Um eventual acordo com o Comitê Nacional de Greve é visto como um passo para pôr fim à crise, embora não para uma solução definitiva. No mês passado, as autoridades colombianas e os líderes dos protestos até disseram ter chegado a um "pré-acordo" para encerrar o período de manifestações, mas o governo acabou recuando porque parte das lideranças grevistas se recusa a condenar os bloqueios nas estradas –exigência que o governo considera inegociável.
Há pelo menos 15 bloqueios vigentes, segundo a agência de notícias AFP, apesar de o Comitê Nacional de Greve ter retirado grande parte deles em um "gesto de boa vontade". O governo Duque atribui perdas milionárias aos grevistas, além da morte de dois bebês presos em ambulâncias que não conseguiram seguir caminho.
As mobilizações têm sido, em sua maioria, pacíficas durante o dia, mas à noite costumam se tornar violentas, com fortes confrontos entre civis e policiais. ONU, Estados Unidos, União Europeia e ONGs denunciaram graves excessos cometidos pelas forças públicas.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos esteve no país para avaliar a situação na Colômbia. Ao final da visita, o governo do país se comprometeu a investigar 21 homicídios ocorridos durante os protestos contra o governo.
Segundo o Ministério da Defesa, cerca de 2.500 pessoas, entre civis e membros das forças de segurança, ficaram feridas nesse contexto. A ONG Human Rights Watch aponta denúncias confiáveis sobre 34 mortes no âmbito dos protestos, das quais 20 aparentemente ocorreram nas mãos de policiais. Entre elas, 16 foram a tiros disparados com a intenção de matar.
Fonte: Notícias ao Minuto