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Contrariados com Olimpíada, restaurantes de Tóquio ignoram estado de emergência

TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – As medidas restritivas aplicadas em Tóquio para a realização da Olimpíada representam um duro golpe para os donos de bares e restaurantes da capital japonesa, setor bastante afetado pela pandemia de Covid-19.

Nesta segunda-feira (12), Tóquio entrou em seu quarto período de estado de emergência, o mais severo desde março do ano passado.

As restrições, como o veto à venda de bebida alcóolica, vão até 23 de agosto e têm como objetivo evitar a circulação de pessoas e aglomerações durante a competição, assim como no tradicional festival religioso Bon, que acontece entre 13 e 15 de agosto, e as férias de verão. O megaevento esportivo vai até o dia 8 de agosto.

Os comerciantes, no entanto, estão convictos de que o primeiro-ministro Yoshihide Suga decretou o quarto estado de emergência apenas por conta dos Jogos Olímpicos, o que desperta ainda mais insatisfação de boa parte dos japoneses por receberem o evento em meio à crise do coronavírus.

Com as novas medidas, os estabelecimentos deverão encerrar o expediente às 20h (de Tóquio).

"Essa Olimpíada, na verdade, não deveria estar acontecendo", diz o brasileiro Sérgio Guedes, que há 27 anos está no Japão e chefia as operações da churrascaria Barbacoa no país.

Entre as nove unidades do restaurante em Tóquio, a do bairro Aoyama comunicou que seguirá com operação normal apesar do estado de emergência e oferecerá todos os itens do cardápio, inclusive a extensa carta de vinhos, com opções que chegam a R$ 5 mil -como o Opus One, da Califórnia, safra 2002.

"A metade dos restaurantes no Japão está falida, e pela quarta vez são submetidos ao estado de emergência e durante seis semanas. Nas anteriores cumprimos as regras, desta vez vamos continuar funcionando normalmente em Aoyama somente, as demais lojas vão seguir com as restrições. Se houver alguma multa, teremos que pagar, mas não tem como parar", afirma Guedes.

A punição financeira pela quebra das restrições pode chegar a 300 mil ienes (aproximadamente R$ 15 mil), a depender do tamanho do estabelecimento comercial.

"Acreditamos que a multa chegue a R$ 10 mil, e ela é cobrada uma única vez [mesmo após descumprir novamente o protocolo]. Temos, somente de aluguel, uma despesa mensal de 55 mil dólares (R$ 290 mil)", diz o brasileiro.

Segundo Guedes, o restaurante atende diariamente cerca de 100 pessoas entre segunda e sexta-feira. Antes da pandemia, a casa fazia planos para receber um público cinco vez maior no decorrer da Olimpíada.

A casa Gonpachim, assim como o Barbacoa, também antecipou em seu portal que desafiará a quarta onda de emergência. "Não responderemos aos pedidos de redução do horário de trabalho ou licença e continuaremos a operar normalmente. Também forneceremos bebidas alcoólicas", diz trecho do comunicado da empresa, publicado no sábado (10).

Há certa tranquilidade entre os empresários do setor, que consideram a fiscalização branda.

O governo tem oferecido subsídios diários para eles, calculados com base no faturamento do estabelecimento nos últimos três anos e multiplicado pela quantidade de dias restritivos.

Levantamento da empresa de análise corporativa Tokyo Shoko Research diz que 842 restaurantes pediram falência no ano passado, um aumento de 5,3% comparado com 2019. Há ainda a perda considerável dos chamados "yzakaya", espécie de pub no país asiático: 175 baixaram as portas, 17% a mais em comparação com 2019.

"Os pequenos restaurantes também estão sofrendo com o custo de investir em equipamentos para evitar a propagação do vírus", diz trecho do relatório da Tokyo Shoko Research.

Natural de Campo Grande (MS), Liara Cristiane Yusa está há 20 anos no Japão, onde constituiu família e abriu salões de estética.
Ela e o marido estadunidense recorreram a empréstimos em banco e também à ajuda de uma amiga para investir 200 mil dólares (pouco mais de R$ 1 milhão) e inaugurar, em agosto do ano passado, um restaurante de comida brasileira no charmoso bairro de Daikaniyama Shibuya, conhecido como o Brooklin de Tóquio.

Naquela época, a organização dos Jogos ainda não havia vetado a presença de torcedores estrangeiros no evento. O país vivia clima pouco mais tranquilo em relação ao coronavírus, até que em 5 de novembro registrou mais de mil novos casos em um único dia, o que não acontecia desde 21 de agosto.

"Mas eles começaram as restrições no final de dezembro, porque não querem perder a Olimpíada. Foi um grande prejuízo, porque este é o melhor mês do faturamento", diz Liara, proprietária do Brasil Bar.

Ela conta que, na época, tinha seis funcionários e chegou a receber uma ajuda de R$ 80 mil.

"Esse dinheiro foi referente ao mês de dezembro, mas só chegou em março. Com ele, temos que pagar o aluguel de R$ 30 mil, a folha salarial e sobreviver", conta a brasileira.

"Tivemos que dispensar funcionários, e eu, meu marido e o meu irmão estamos tendo que dar conta. A esperança de muitos empresários era a Olimpíada."

O primeiro estado de emergência havia sido decretado em abril do ano passado, no início da pandemia. O segundo já aconteceu em janeiro deste ano, e o terceiro, no último mês de abril.

*Com Informações Notícias ao Minuto

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