Quando falamos em depressão na adolescência, é comum pensarmos em diagnósticos e termos médicos. Esses elementos, de fato, são importantes, pois permitem uma comunicação mais eficaz e o desenvolvimento de novos estudos. No entanto, nem sempre conseguem expressar a vivência que o adolescente tem em seu dia a dia.
Para muitos jovens, a depressão não começa como um “transtorno”, mas como uma experiência difícil de explicar – marcada por tristeza profunda, solidão, irritabilidade e uma sensação de desconexão do mundo ao redor.
Sentimentos que vão além da tristeza
Pesquisas recentes com adolescentes de diferentes países mostram que a tristeza, de fato, aparece na maioria dos casos, mas raramente vem sozinha. Com muita frequência, os jovens relatam sentir-se sozinhos, mesmo quando estão cercados de pessoas. É comum a sensação de estar “fora de lugar”, como se houvesse uma barreira invisível entre eles e os outros.
A irritabilidade e até mesmo a raiva também podem fazer parte dessa vivência, mais comum entre meninos, embora nem sempre sejam reconhecidas como sinais de depressão.
Dificuldade de explicar o que dói
Outro aspecto marcante é a dificuldade de colocar em palavras os próprios sentimentos. Muitos adolescentes descrevem a depressão como algo confuso ou estranho, recorrendo a metáforas para tentar explicar o que estão sentindo. Essa dificuldade de comunicação pode atrasar o reconhecimento do sofrimento e aumentar a sensação de incompreensão.
Não é raro que o jovem ouça frases como “isso é só uma fase”, “é falta de esforço” ou “é exagero”, o que pode acabar aprofundando ainda mais o isolamento.
O contexto de vida tem um papel central nessa experiência. Conflitos familiares, bullying, pressão escolar e expectativas irreais sobre desempenho e comportamento podem atuar como gatilhos, intensificar ou perpetuar o sofrimento.
A depressão, nesse sentido, não é vivida apenas como algo interno, mas como uma experiência profundamente ligada às relações, à cultura e às condições em que o adolescente está inserido.
Barreiras para pedir ajuda e o que funciona
Buscar ajuda também não costuma ser simples. O medo do estigma, a desconfiança em relação aos adultos e aos serviços de saúde, além da sensação de não ser levado a sério, podem fazer com que muitos adolescentes tentem enfrentar a dor sozinhos. Quando conseguem acessar cuidado, costumam valorizar profissionais que escutam de verdade, respeitam sua história e os envolvem nas decisões – mais do que abordagens autoritárias ou centradas apenas na medicação.
Compreender a depressão a partir da vivência do adolescente não substitui o diagnóstico, mas o amplia. Escutar as narrativas dos jovens ajuda a reconhecer o sofrimento mais cedo, fortalecer vínculos e oferecer um cuidado mais humano e eficaz. Afinal, para quem vive a depressão na adolescência, mais do que um rótulo clínico, o que faz diferença é sentir-se visto, compreendido e acolhido.
*Texto escrito pelo psiquiatra Christian Kieling (CRM 31906 | RQE 24482/RS), do Hospital Moinhos de Vento
Com Informações: CNN Brasil







