A “Deusa da Riqueza” que realizou uma das maiores operações de lavagem de dinheiro no mundo foi condenada esta terça-feira (11), a 11 anos e oito meses de prisão no Reino Unido.
Zhimin Qian, de 47 anos, foi presa em 22 de abril do ano passado em um quarto de Airbnb no subúrbio de York, na Inglaterra. Na época, foi surpreendida por uma equipe de agentes da polícia que a deteve no local.
A investigação à mulher de nacionalidade chinesa começou em 2018, há já sete anos, por suspeitas de crime internacional de lavagem de dinheiro.
Antes disso, as autoridades chinesas já a procuravam: deu golpes em mais de 128 mil aposentados na China entre 2014 e 2017, em um total que ronda os 40 bilhões de yuan (cerca de 30 bilhões de reais).
Qian convencia aposentados a investirem dinheiro na sua empresa, que dizia estar desenvolvendo produtos de saúde de alta tecnologia, assim como a investir em criptomoedas. Na verdade, segundo as autoridades, Qian estava desviando os fundos para proveito próprio.
Em 2017, Qian fugiu da China, rumo ao Reino Unido com um passaporte do Caribe e um nome falso. Na Inglaterra, encontrou-se com Jian Wen, de 42, que recrutou através das redes sociais para a ajudar a continuar os crimes. Juntas, mudaram-se para uma casa em Hampstead, no norte de Londres, cujo o aluguel ultrapassava os 19 mil euros (cerca de 120 mil reais) por mês.
Ao longo das 48 semanas seguintes, a dupla realizou uma autêntica maratona de compras, que passou por 24 localizações na Europa distintas: compraram relógios, diamantes, roupas de designers de moda, e demais objetos de luxo, em uma tentativa de lavar o dinheiro que Qian tinha obtido nos golpes.
Enquanto a mulher esbanjava o dinheiro roubado, outras 80 pessoas eram condenadas no seu país natal pelo esquema.
Na Europa, Qian se fazia passar por uma magnata internacional de joalharia, com Wen agindo como sua empregada. Em uma das suas maratonas de compras, a dupla gastou mais de 130 mil euros (cerca de 810 mil reais) em dois relógios em uma loja da da Van Cleef & Arpels em Zurique, na Suíça.
Compra de dois imóveis de luxo alertou as autoridades inglesas
As autoridades só começaram a suspeitar de um eventual crime quando Qian e Wen tentaram comprar uma mansão de mais de 27 milhões de euros (170 milhões de reais) em uma mansão em Hampstead High Street e uma outra propriedade em Totteridge de 14 milhões de euros (87 milhões de reais) em 2018.
Nesse mesmo ano, no final de outubro, a polícia invadiu a propriedade alugada pela dupla para uma busca inicial. Qian foi encontrada pelos agentes debaixo dos cobertores. Quando questionada sobre quem era, mentiu, dizendo que se chamava Yadi Zhang e que sofria de lesões cerebrais e nas pernas.
No cofre desse mesmo quarto, as autoridades descobriram um bloco de notas com os dados de login dos seus computadores portáteis e as chaves de acesso às carteiras online que estavam a fortuna de Qian – mal sabia a polícia que a informação os iria levar à maior apreensão individual de criptomoedas do mundo.
Ao todo, foram apreendidas 61 mil bitcoins, que têm um valor de mercado atual que ronda os 5,7 bilhões de euros (31 bilhões de reais). Fora da criptomoeda, foram apreendidos outros ativos no valor de 227 milhões de euros (1,2 bilhão de reais).
Mas não só. Foram ainda descobertas elevadas quantias em numerário, como em euros, dólares americanos e francos suíços. Em um cofre de segurança em Harrods, Londres, os agentes encontraram ainda um celular e dois computadores portáteis com milhões de euros em criptomoedas.
Apesar de os objetos apreendidos serem suspeitos, as autoridades decidiram não deter nem Qian nem Wen, nessa ocasião.
Qian foge e só é localizada em 2025
As buscas, no entanto, foram o suficiente para a mulher conhecida como a “Deusa da Riqueza” fugir, novamente, passando os seus anos seguintes desaparecida.
Em 2021, três anos depois, Wen foi presa na mesma casa em Hampstead, sendo posteriormente condenada a seis anos de prisão por lavagem de dinheiro.
Só passados outros três anos é que Qian foi localizada pelas autoridades e detida. Tal como em 2018, a mulher estava na cama, tapada com cobertores quando a polícia entrou pelo quarto adentro. À semelhança da sua cúmplice, foi acusada de crimes de lavagem de dinheiro.
Em tribunal, Qian declarou-se culpada de dois desses crimes. Contudo, o seu advogado de defesa afirmou que a “Deusa da Riqueza” nunca teve a intenção de cometer fraude, “mas reconhece que os seus esquemas eram fraudulentos e enganaram aqueles que confiaram nela”.
“Ela lamenta profundamente o sofrimento causado aos investidores e espera que algo de bom resulte da riqueza que o seu trabalho criou”, acrescentou o advogado, frisando que a sua cliente “não tem antecedentes criminais” e manteve um “comportamento exemplar” enquanto esteve detida.
Qian foi condenada a 11 anos e oito meses de prisão.
Após a leitura da sentença, o chefe de crimes econômicos e cibernéticos da polícia inglesa considerou que esta foi uma das “mais e mais complexas” investigações realizados por esta força.
A fortuna digital de Qian, que vale vinte vezes mais do que em 2017, quando chegou ao Reino Unido, é agora o foco de uma batalha judicial que deverá começar no início do próximo ano. Os ativos vão ser disputados no Supremo Tribunal pelo governo do Reino Unido e as milhares de vítimas chinesas.
Os procuradores tentaram criar um esquema de compensação, mas a representação das vítimas alega que os seus clientes não devem recuperar apenas aquilo que investiram. Defendem que à semelhança do que aconteceu com a fortuna de Qian, também o investimento (e, agora, compensação) dos lesados deve refletir a valorização dos ativos ao longo dos anos.
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Fonte: Notícias ao Minuto







