Dólar fecha em disparada e Bolsa cai em meio a ruídos políticos, com exterior no radar

Dólar e Bolsa caem em meio a incertezas sobre tarifas de Trump

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em forte alta de 1,05% nesta quarta-feira (17), cotado a R$ 5,521, com o mercado se posicionando com cautela diante de ruídos políticos no país.

A aversão a ativos brasileiros se deu em meio à tramitação do PL da Dosimetria no Senado, tendo as pesquisas de intenção de voto para 2026 da véspera ainda no radar. Na cena internacional, foco está voltado para decisões de juros de bancos centrais e dados dos Estados Unidos.

O ambiente contaminou a Bolsa, em queda de 0,78%, a 157.327 pontos, também reflexo de um movimento de realização de lucros após o Ibovespa ter subido mais de 30% ao longo do ano. Na véspera, o índice já havia tombado 2,41%.

A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado Federal aprovou o PL da Dosimetria nesta sessão, projeto de lei que reduz as penas de condenados por atos golpistas e beneficia o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele pode ter o tempo de condenação em regime fechado encurtado para algo entre dois anos e quatro meses e quatro anos e dois meses, dependendo da interpretação.
Se as regras vigentes hoje forem mantidas, a estimativa é que o ex-presidente fique de 6 anos e 10 meses a pouco mais de 8 anos em regime fechado. A condenação total foi a 27 anos e 3 meses.

O texto segue para o plenário antes de ir à sanção ou voltar à Câmara, em votação que pode acontecer já nesta quarta.

O ruído em torno da tramitação do PL se soma ao noticiário da véspera, quando uma pesquisa Genial/Quaest mostrou Lula liderando as intenções de voto para as eleições de 2026. Tarcísio ficou atrás de Flávio nas simulações.

O governador paulista é visto por investidores como um candidato mais alinhado à agenda pró-mercado e mais competitivo do que Flávio. O senador anunciou sua pré-candidatura com o aval do pai no dia 5 de dezembro -após o anúncio, o dólar disparou para R$ 5,43 e a Bolsa recuou 4%.

Segundo Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, a leitura de que Tarcísio perde força enquanto Flávio ganha espaço impacta o humor dos investidores. “O mercado leu os resultados da Quaest como uma sinalização de preferência por Lula”, afirma.

“Quando a Quaest sai mostrando o Lula forte, volta o medo de que não se concretize a alternância política. Por isso o mercado piorou.”

Uma eventual vitória de Tarcísio nas eleições, na análise do mercado, destravaria uma valorização ainda mais acentuada para a Bolsa e uma depreciação maior do dólar. É para esse cenário que os investidores vinham se posicionando, em operações que vinham sendo apelidadas de “Tarcísio Trade”.

Isso porque os operadores procuram uma melhora no quadro das contas públicas do Brasil, dada a trajetória crescente da dívida em relação ao PIB -uma métrica que compara o quanto um país deve e o quanto de riqueza é produzida dentro dele. O indicador é importante para avaliar a saúde financeira e a capacidade dele de honrar dívidas.

Tarcísio teria uma agenda mais avessa a aumentar os gastos públicos, o que daria mais previsibilidade sobre os rumos da economia. O aumento das despesas poderia, por exemplo, forçar uma manutenção da taxa Selic em patamares elevados, já que teria o potencial de afetar a dinâmica da inflação.

Operadores têm repetido que, mais do que o nome do candidato eleito, o que importa é como será a condução fiscal do governo de 2027. “O mercado é apolítico, o que ele precifica é taxa de juros e o quanto ela afeta os ativos de risco. Hoje, o juro restritivo de 15% se deve ao fiscal mais expansionista. E a expectativa é a de que a oposição traga um fiscal com mais austeridade”, afirma Rubens Cittadin Neto, especialista em renda variável da Manchester Investimentos.

“Então, quando ocorre um movimento que divide a oposição, e enfraquece o lado político que pode trazer a austeridade fiscal, o mercado acaba precificando muito mal.”

A elevada incerteza sobre as eleições deve continuar ao longo do próximo ano e ganhar tração a partir de abril, quando os candidatos terão oficializado suas intenções de concorrer à Presidência.

A movimentação deste mês é, na visão de Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos, também de realização de lucros. “Não podemos esquecer que a Bolsa chegou a se valorizar quase 35% nesse ano. É bastante coisa. Qualquer tipo de incerteza, ainda mais nessa época do ano, leva o investidor a colocar dinheiro no bolso”, afirma.

Pesa, ainda, a antecipação das remessas de dividendos ao exterior. As mudanças no Imposto de Renda, que entram em vigor em 2026, aceleraram a distribuição de lucros aos sócios e acionistas de grandes empresas neste fim de ano, em um esforço para garantir a isenção dos rendimentos antes que a alíquota mínima para contribuintes de alta renda entre em vigor.

“Muitas empresas, fugindo da tributação, estão antecipando as remessas ao exterior, o que aumenta o volume de saída de dólares do país”, afirma Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

A cena internacional também norteia as negociações. Dados de desemprego nos Estados Unidos mantiveram as apostas na manutenção dos juros norte-americanos no encontro de janeiro. “Ou seja, Brasil vai manter em 15%, e EUA não cortam. Pesou em Wall Street e pesa mais no Brasil”, afirma o analista.

Dados de inflação dos EUA serão divulgados na quinta e deverão ajustar as apostas sobre a política monetária por lá. A probabilidade de manutenção dos juros no atual patamar de 3,5% e 3,75% é de 77,9%, segundo a ferramenta FedWatch, enquanto os demais 22,1% apostam em um corte de 0,25 ponto percentual.

Além disso, decisões de juros da Inglaterra e da União Europeia, também esperadas para quinta, colocam o exterior em compasso de espera.

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Fonte: Notícias ao Minuto

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