SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma investigação sobre corrupção derrubou nesta sexta-feira (28) Andrii Iermak, o chefe de gabinete do presidente Volodimir Zelenski e segundo homem mais poderoso do país, responsável pela negociação do acordo de paz com a Rússia proposto pelo governo dos Estados Unidos.
Em nota, o Escritório Nacional Anticorrupção (Nabu, na sigla local) e a Procuradoria especializada Anticorrupção (Sapo) afirmaram que a Justiça autorizou uma batida na casa do político, mas não revelaram o teor da investigação. Sua saída foi anunciada pelo presidente logo depois, com o presidente alegando ser vital manter “a unidade nacional”.
A ação provavelmente teve a ver com o megaescândalo de desvio de ao menos US$ 100 bilhões (R$ 530 bilhões) do setor de energia, que derrubou os ministros da área e da Justiça. Iermak afirmou que está colaborando com as apurações.
As duas agências que investigam seu então número 2, visto amplamente como quem dá as cartas na política ucraniana pelo lado do governo, tinham sido objeto de polêmica em junho.
O presidente tentou tirar o poder delas investigar pessoas em altos cargos, caso de Iermak, o que levou aos primeiros grandes protestos de rua contra Zelenski desde que Vladimir Putin invadiu seu país, em fevereiro de 2022.
Pressionado em casa e pelos aliados, que doaram algo como US$ 1,5 trilhão (R$ 8 trilhões) para o esforço de guerra até agora e querem saber para onde vai o dinheiro, o presidente recuou da proposta. Agora, vê a Nabu e a Sapo agindo na cozinha do governo.
O momento não poderia ser pior para o ucraniano, que tem no ex-chefe das Forças Armadas Valeri Zalujni o principal candidato a sucessor -quando houver eleições, já que o estado de sítio impede a realização de pleitos mesmo com o mandato de Zelenski tendo expirado em maio do ano passado.
Putin se aproveita da situação sempre que pode. Na quinta (27), ele disse no Quirguistão que Zelenski era “ilegítimo” e que “não fazia sentido assinar nenhum documento” a seu lado. Nesta sexta, o Kremlin disse que mesmo achando isso a Rússia seguirá negociando.
O próprio Trump, que não esconde sua preferência pessoal pelo russo ante o ucraniano, já chamou Zelenski de “ditador sem voto”, apesar de ele ter sido eleito democraticamente em 2019.
Iermak, 54, é amigo de Zelenski, 47, desde que o presidente era um comediante que fez carreira nas TVs russa e ucraniana.
Ele foi o chefe da delegação que negociou a mudança no plano pró-Rússia apresentado pelos EUA na semana passada, num encontro em Genebra no domingo (23) com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o enviado de Trump Steve Witkoff.
Da reunião saiu uma versão revisada da proposta, que havia sido rascunhada por Witkoff com o russo Kirill Dmitriev. Ela não foi totalmente divulgada, mas o que emergiu sugere algo ao gosto de Kiev, enquanto a primeira minuta era francamente favorável a Putin.
O presidente russo disse que é possível negociar a paz a partir do texto atual, mas ele terá de ser alterado. O jornal britânico Telegraph diz que o novo documento garantirá a Putin os ganhos até aqui no conflito.
Entre os pontos que o Kremlin diz se inegociáveis está a neutralidade militar da Ucrânia e o reconhecimento das quatro regiões que anexou ilegalmente em 2022, mais o da Crimeia anexada em 2014, entre outros.
Ainda é preciso saber do que Iermak foi acusado, mas o histórico de corrupção na Ucrânia e o fato de que Zelenski tentou amordaçar as agências independentes que apuram o caso não sugerem um cenário róseo, o que foi evidenciado por sua degola.
Segundo o ranking de percepção de corrupção da ONG Transparência Internacional, Kiev está no 105º lugar entre 180 países, sendo a primeira posição a melhor.
Fonte: Notícias ao Minuto







