A crise em torno dos preços abusivos na rede hoteleira de Belém para a COP30 acaba de ganhar mais um capítulo polêmico. Documentos da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), vinculada ao Ministério da Justiça, revelam que ao menos dez hotéis da capital paraense se recusam, há dois meses, a prestar esclarecimentos sobre os valores praticados para hospedagem durante a conferência da ONU, marcada para novembro.
Entre os casos que mais chamam atenção está o da rede Tivoli, que instalou um hotel de luxo em um prédio cedido pelo governo do Pará, com previsão de investimento de R$ 20 milhões em crédito público via Fundo Gestor do Turismo, operado pelo Banpará (banco estadual). O empreendimento foi construído especialmente para a COP — mas, contraditoriamente, justifica os preços absurdos alegando falta de estrutura hoteleira em Belém.
Segundo resposta enviada à Senacon, a diária média do Tivoli para o evento chega a R$ 15 mil, enquanto a suíte presidencial ultrapassa os R$ 206 mil. Apesar da exigência legal, a empresa se recusou a explicar sua política de preços, alegando que “a divulgação pública de negociações específicas pode comprometer princípios legais”. As informações são da Folha de São Paulo.
Contradições e silêncio
No mesmo documento, a própria rede admite que só começará a operar às vésperas da COP, o que impediria uma comparação direta com valores anteriores. Mas, na sequência, justifica os preços elevados por conta da falta de leitos na cidade — justamente o gargalo que o hotel, teoricamente, deveria ajudar a resolver.
A posição do Tivoli revela um paradoxo: foi beneficiado com prédio público e linha de crédito subsidiada para ajudar Belém a receber um evento global, mas agora contribui para inflar ainda mais os preços — e sem transparência.
Outros hotéis adotaram a mesma postura. De acordo com a Senacon, muitos sequer responderam aos ofícios enviados pelo órgão, e entre os que responderam, houve uma repetição de justificativas genéricas, que pouco ou nada esclarecem.
“Oferta e procura”, diz setor
A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), por meio do presidente da entidade no Pará, Antonio Santiago, resumiu a prática em uma frase: “Certamente estão aplicando uma lei antiga: oferta e procura”.
No entanto, o que se observa, na prática, é o uso do evento internacional como pretexto para abusos, mesmo com a entrada de novos empreendimentos justamente financiados com dinheiro público para evitar esse cenário.
Enquanto isso, o governo federal e a ONU se preparam para ocupar Belém com delegações de mais de 190 países — sem saber, até agora, se terão leitos suficientes ou se conseguirão enfrentar os preços fora da realidade que vêm sendo praticados.
Com Informações: Pará News Web