SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Irã decidiu nesta quarta-feira (2) suspender a cooperação com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), o órgão da ONU que fiscaliza os programas nucleares dos países signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).
O Parlamento do país persa havia aprovado o projeto de lei na semana passada, exatamente um dia após o cessar-fogo com o Israel. A medida recebeu aval do Conselho dos Guardiões, órgão formado formado por 12 clérigos e juristas responsável pela revisão das leis, e foi sancionada nesta quarta pelo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian.
Os Estados Unidos classificaram de “inaceitável” a decisão, uma vez que foi tomada “em um momento em que há uma janela de oportunidade para reverter o curso e escolher um caminho de paz e prosperidade”, disse a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce. “O Irã deve cooperar com a AIEA”, acrescentou.
O Irã ainda é membro do TNP, mas as tensões entre o país e a AIEA vinham crescendo antes mesmo do início da guerra com Israel -Tel Aviv justificou o conflito dizendo que Teerã estava prestes a ser capaz de desenvolver uma bomba atômica.
A guerra de 12 dias, que culminou com o bombardeio dos Estados Unidos a três instalações nucleares do Irã, foi a pá de cal na relação entre Teerã e o órgão da ONU. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano disse que a suspensão da cooperação com a AIEA reflete a “preocupação e a raiva do público iraniano”.
Horas antes dos primeiros bombardeios, a AIEA emitiu um parecer duro contra o Irã, afirmando que o país não cumpre suas obrigações de não proliferação. Teerã acusou a agência de, dessa forma, legitimar uma agressão ilegal contra o país.
O Irã nunca admitiu publicamente que desenvolve uma bomba atômica, e agências de inteligência americanas também dizem que esse programa não existe.
Por outro lado, a AIEA confirma que o Irã enriquece urânio a 60% -nível próximo dos 90% necessários para produzir uma bomba atômica e muito acima dos 3,67% exigidos em usinas comerciais, o que indicaria a intenção de utilizar esse material militarmente.
O país persa rejeitou uma solicitação do chefe da AIEA, Rafael Grossi, para visitar as instalações nucleares bombardeadas pelos EUA e avaliar as extensão dos danos. O Irã afirmou que o pedido reflete as “más intenções” do argentino.
Os Estados Unidos, aliados históricos de Israel, entraram diretamente no conflito com Teerã e atacaram as três principais instalações nucleares do país persa. Donald Trump afirmou que a ofensiva aniquilou o programa iraniano, mas a extensão dos danos não está clara. Relatórios preliminares das agências de inteligência americanas publicadas pela imprensa colocaram em xeque as falas do presidente sobre o tema.
Em entrevista à CBS News, o ministro de Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, afirmou que o bombardeio americano causou “danos sérios e extensos” ao complexo de Fordow, que fica enterrado em uma montanha no Irã.
“Ninguém sabe exatamente o que ocorreu em Fordow. Dito isso, o que sabemos até agora é que as instalações foram seriamente e fortemente danificadas”, disse o chanceler na entrevista transmitida na terça-feira (1º). “A Organização de Energia Atômica da República Islâmica do Irã está atualmente realizando avaliações e análises, cujo relatório será apresentado ao governo.” Sean Parnell, porta-voz do Pentágono disse nesta quarta que os danos causados pelos ataques dos EUA ao programa iraniano o atrasaram em até dois anos.
A agência de energia atômica da ONU não comentou a sanção da medida. “Estamos cientes desses relatos. A AIEA aguarda mais informações do Irã”, disse o órgão, em nota.
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Fonte: Notícias ao Minuto