SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Os principais alvos da Operação Contenção contra o Comando Vermelho geriam a facção em grupos de WhatsApp, dando ordens, definindo atuações e decidindo os próximos passos. Os prints das conversas estão anexados à denúncia do MP-RJ (Ministério Público do Rio e Janeiro).
Mensagens mostram que a cúpula do CV tinha grande preocupação com a segurança com líder da facção, Edgar Alves de Andrade, o Doca. A investigação da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) baseou a denúncia do MP-RJ que culminou na maior operação da história do estado.
Homens de confiança de Doca ordenavam segurança do líder, negócios ilegais e até escalas de plantão nas comunidades. Além de Doca, compõem o alto escalão do CV: Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala, Carlos Costa Neves, o Gardenal, Washington Cesar Braga da Silva, de vulgo Grandão.
O relatório da investigação mostra diálogos, fotos e vídeos dos integrantes. Imagens mostram como os soldados o CV vigiavam as vias do Complexo do Alemão e na frente da residência de Doca, chamada Toca do Urso.
Pedro Belo é a maior liderança do CV no Complexo da Penha, ao lado de Doca, segundo a investigação policial. Ele tem mais de 167 anotações criminais, incluindo homicídio, tráfico, roubo entre outros. Gadernal o chama de chefe nos registros em mensagens.
“Ninguém dá tiro sem ordem do Doca ou do Bala. Vamo pegar a visão”, diz trecho de uma mensagem.
HISTÓRICO DE MENSAGENS NO WHATSAPP
Gardenal é a liderança responsável pela segurança de Doca. Homem de confiança, ele define quem se aproxima ou não da “Toca” e aponta os seguranças do chefe do CV nas ruas. Ele define quem deve acessar o grupo no WhatsApp com os membros e está acima de Grandão na hierarquia.
“Rapaziada, pegar a visão aqui aqui no portão do pai, ninguém entra armado aqui dentro da casa e ninguém entra sem autorização. Samuca e Tizil fica responsável aqui na porta”, disse Gardenal.
“Frisar bem o papo, não pensa com o coração e nem amizade. Isso é o crime”, disse Gardenal.
Grandão é considerado o síndico, por resolver as questões administrativas do CV. Ele enviar ordens de caráter geral, passa informações dos cabeças da organização, define e escala soldados para os plantões e tem autorização para falar pelo “paizão”, Doca.
Ele também informa sobre os pagamentos e organiza os bailes do Comando. Nas mensagens obtidas pelo UOL, ele envia uma escala com os soldados e as ruas que eles estão responsáveis.
O síndico era ativo na rede social X, segundo a polícia. Com mais de 30 mil seguidores, ele fazia enquetes para perguntar quem deveria ser a próxima atração de um baile.
Os chamados de “soldado” pela polícia descrevem a todo momento suas atividades. Vigiam as ruas, informam a chegada de viaturas, trazem e levam recados.
Membros discutiam a prestação de contas da facção no grupo de WhatsApp. Em um registro, um homem identificado por Dilma fala que chegou um “menor” para pegar o pagamento de Belão do Quitungo, que foi preso na operação no Complexo do alemão. Outro fala em recolher os lucros de uma boca de fumo.
“Tem uma tia aqui falando que o chefe tá aguardando ela. Vê essa visão aí?”, diz membro do grupo.
QUEM É DOCA, PRINCIPAL ALVO DA OPERAÇÃO MAIS LETAL DA HISTÓRIA DO RJ
Foragido há sete anos, Doca é apontado como o principal chefe do Comando Vermelho em liberdade. Ele acumula 273 anotações criminais e 32 mandados de prisão em aberto.
Sua única prisão ocorreu há quase duas décadas, por tráfico e associação criminosa. Ele resistiu atirando nos policiais por horas. A notoriedade o fez ascender na hierarquia da facção, mesmo encarcerado.
Um relatório da DRE de março, ao qual o UOL teve acesso, descreve Doca como o mais violento líder da cúpula do CV nas ruas. É atribuída a ele a ordem para “enfrentamento ao Estado” e incentivo de roubos de veículos e cargas.
Na hierarquia do crime, só estaria abaixo de nomes históricos que estão presos, como Fernandinho Beira-Mar, preso há 24 anos, e Marcinho VP, preso há 31 anos. A lista de crimes pelos quais é procurado inclui tráfico de drogas, organização criminosa, tortura, extorsão, corrupção de menores e ocultação de cadáver.
Em 2021, ele foi investigado sob a suspeita de planejar um resgate de presos de Bangu com um helicóptero. Entre o fim de 2020 e o início de 2021, foi considerado o mandante do crime contra três meninos em Belford Roxo, que desapareceram. Para o MP, ele autorizou a tortura e a morte das crianças, que teriam furtado um passarinho.
Doca é tido como discreto, mas, dentro da favela, vive com ostentação: gosta de ouro e de motos. Já foi citado por Oruam, em letras de funk que mencionam a “tropa do Urso”.
Juntamente com Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala, Doca comanda há, pelo menos, 10 anos o tráfico de drogas na Vila Cruzeiro. Depoimentos de PMs registrados em documentos da Justiça mostram que, em 2015, Bala assumiu a liderança do Comando Vermelho na favela, função que manteve até o fim de 2016 – quando foi substituído por Doca.
Apesar da troca, ambos continuaram na comunidade e à frente da Tropa do Urso, grupo da facção envolvido em tentativas de conquista de outras territórios. Um desses momentos aconteceu em agosto de 2022 no Complexo de São Carlos, controlado pelo TCP e localizado no Centro da cidade do Rio.
O Disque Denúncia do Rio de Janeiro oferece uma recompensa de R$ 100 mil por informações que levem a polícia a capturar Doca. O cartaz foi divulgado na tarde desta quinta-feira (30).
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Fonte: Notícias ao Minuto







