Pais repensam exposição de filhos nas redes após repercussão de denúncia do youtuber Felca

Pais repensam exposição de filhos nas redes após repercussão de denúncia do youtuber Felca

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O vídeo viral do youtuber Felca que denunciou casos de exposição e adultização de crianças nas redes sociais reacendeu o debate sobre cuidados que pais devem ter com a imagem de seus filhos na internet.

Segundo especialistas, fotos e vídeos da rotina da criança podem ser utilizados com um olhar de abuso por desconhecidos, com repercussões no desenvolvimento infantil.

Hytalo Santos, influenciador citado por Felca no vídeo, foi preso nesta sexta-feira (15), em Carapicuíba, na Grande São Paulo. O marido dele, Israel Nata Vicente, também foi detido. Hytalo era investigado pelo Ministério Público da Paraíba desde dezembro de 2024 sob suspeita de exploração de crianças e adolescentes e por trabalho infantil. Ele nega as acusações.

Na última semana, a influenciadora Rafa Brites declarou publicamente apoio à denúncia feita por Felca e afirmou que já vinha evitando compartilhar a intimidade do filho. “Para consumir conteúdo de maternidade, procuro podcasts, livros, programas com informação e estrutura, muito melhor que pessoas apenas expondo seus filhos”, escreveu no Instagram.

Ela disse que tomou consciência nos últimos anos e fez mudança em seu perfil, o que a levou a perder contratos para campanhas publicitárias. Brites afirmou ainda ficar angustiada ao ver pessoas próximas compartilhando na internet os momentos em que trocam ou alimentam os filhos.

“Tudo isso que ele falou [Felca] tem muito a ver com o porquê mudei meu perfil nas redes sociais.” “Expunha sim, os meus filhos, mostrando, o que estava fazendo com eles”, acrescentou.

Monica Benini, outra influenciadora digital, também se manifestou contrária a exposição das crianças. Ela é casada com o cantor Junior Lima, com quem tem dois filhos.

“A gente aprende que não precisa expor crianças para falar de maternidade, não precisa expor crianças para vender produtos para crianças”, escreveu também no Instagram.

O psicólogo Rodrigo Nejm, especialista em educação digital do Instituto Alana, alerta para o risco de uma foto de família com a criança ser filtrada pelo algoritmo e se juntar a outras imagens parecidas em perfis criminosos. “Há plataformas quem vendem esses conteúdos para fazer parte de uma cadeia de abusos”, diz.

Além disso, há o risco de a foto ser manipulada por inteligência artificial para deixar a criança nua, o chamado “deep nude” (nudez falsa). “Os pais devem se questionar qual a intenção de publicar essas fotos. Se for para mostrar para amigos e parentes, o ideal é que seja usado um grupo privado onde há o controle de quem tem acesso.”

A mesma orientação é dada por Juliana Cunha, diretora do Safernet Brasil. “Essas imagens manipuladas que circulam tiveram origem em fotos compartilhadas por pais nas redes sociais. É uma tecnologia barata e acessível”, diz.

Em entrevista à Folha, a neuropedagoga Maya Eigenmann, 38, é mais enfática. Segundo ela, está ficando cada vez mais escancarado o quão perigosas as redes sociais são para as crianças. “Nós temos que evitar a qualquer custo postar as crianças de forma que as deixe vulneráveis a essa rede predadora.”

Especialista em educação positiva e mãe de dois, Maya também é uma influenciadora digital, com 1,3 milhão de seguidores somente no Instagram.

“Cobrir o rosto sempre, jamais postar com roupa de banho, nunca mostrar onde a criança estuda, não mostrar uniforme, para não dar margem para situações de perigo”, afirma.

Para quem trabalha com a internet, diz, seja influenciador de grande ou pequeno porte, é mais importante ainda ter essa consciência.

“Nós estamos tirando o direito ao anonimato dos nossos filhos. Eu mesma demorei para entender isso. Trabalho na internet há seis, sete anos e só parei de mostrar meus filhos ano passado. Eu não tinha essa consciência, pisei na bola, hoje eu venho levantando essa bandeira.”

Embora a repercussão do caso de Felca possa ajudar a conscientizar muitas pessoas, ela é cética sobre o alcance da mensagem depois que a repercussão diminuir. Por isso, defende que existam leis e controle maior nas redes sociais sobre a exposição de crianças. “Se mexe no dinheiro, a pessoa não está muito disposta a mudar.”

Estudo recente da UniCesumar, no Paraná, apontou que a exposição excessiva de crianças e adolescentes nas redes compromete a dinâmica familiar e pode ter impacto na saúde mental infantil. A prática ganhou um termo específico em inglês, “sharenting”, formado pela junção de “share” (compartilhar) e “parenting” (parentalidade).

Assim, a recomendação é também pedir autorização à criança antes de publicar fotos e vídeos. “A criança deve ser escutada se quer aparecer na foto, ela tem direito à privacidade também. A foto que parece inofensiva para os pais pode ser vítima de bullying na escola, por exemplo”, diz o psicólogo Nejm.

Nesse contexto, a exposição precoce nas redes sociais pode gerar comparações sociais de buscar por likes e visibilidade. “Pode afetar a autoestima de um pré-adolescente”, acrescenta ele.

ORIENTAÇÕES DE SEGURANÇA ONLINE

PARA FAMILIARES E TUTORES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Muitos abusadores usam informações postadas por pais e responsáveis para acessar crianças e adolescentes

– Não crie perfis para crianças e verifique a idade adequada de cada aplicativo ou plataforma na hora de permitir perfis de adolescentes;

– Proteja contas e equipamentos com senhas seguras e dupla verificação;

– Evite postar vídeos ou fotos de crianças e adolescentes: essas imagens podem ser compartilhadas, inclusive em grupos de criminosos online, e podem ser alteradas por meio de Inteligência Artificial, produzindo conteúdos inapropriados;

– Não compartilhe hábitos familiares e locais frequentados pelas crianças e adolescentes da família

– Cubra o rosto de crianças e adolescentes com emojis ou figurinhas para dificultar a identificação

– Só compartilhe fotos de menores de idade em grupos privados em que há controle de quem irá ter acesso

SE O SEU FILHO TEM ACESSO À INTERNET

– Abandone a postura de “sabe-tudo” e escute ativamente a criança;
– Seja um adulto confiável e permaneça calmo diante de problemas trazidos por eles;
– Converse sobre várias possibilidades que a internet oferece, mas também sobre os riscos, e deixe crianças e adolescentes falarem sobre suas experiências;
– Ensine sobre privacidade e proteção de senhas e equipamentos;
– Alerte sobre o cyberbullying e suas consequências
– Combine horários e condições em que se pode usar a internet e o celular;
– Defina quais os tipos de sites podem ser acessados, quais aplicativos podem ser baixados;
– Não permita que crianças e adolescentes passem a noite jogando ou na internet;
– Explique os motivos das restrições, evidenciando os riscos do uso excessivo de telas, do compartilhamento de imagens, de interagir com desconhecidos na vida real
– Dê o exemplo: não se pode exigir aquilo que os próprios pais não conseguem fazer

COMO AUMENTAR UM POUCO A SEGURANÇA

Aplicativos e configurações permitem filtrar conteúdos, restringir quem pode acessá-los e bloquear aqueles inadequados:
YouTube Kids: oferece uma versão mais segura para crianças e adolescentes e permite o bloqueio de conteúdos considerados inadequados:

– Google Family Link: é um aplicativo que permite aprovar aplicativos que podem ser baixados nos equipamentos usados por crianças e adolescentes e estabelecer regras de tempo de uso;
– Controle parental Iphone e Ipad: ferramenta da Apple que permite a escolha dos conteúdos, aplicativos e recursos;
– Controle parental Windows: permite o controle de conteúdos, tempo de uso e aplicações que perfis de crianças e adolescentes podem acessar;
– Conta de adolescente no Instagram: permite aos pais controlar tempo de uso, notificações, conteúdos e quem pode entrar em contato com o titular da conta.

As funções podem ser administradas remotamente pelos responsáveis e menores de 16 anos precisam de autorização dos pais para alterar configurações

O QUE FAZER QUANDO ACONTECE UM CRIME ONLINE

– Colete e preserve os vestígios, por mais que o impulso seja o de deletar tudo;
– A vítima não é culpada: acolha-a;
– Procure a polícia para denunciar o caso;
– Denuncie nas plataformas onde o crime ocorreu;
– Não compartilhe links de imagens de abuso sexual infantil, mesmo se a intenção for alertar outras pessoas;
– Busque ajuda na Helpline da Safernet: safernet.org.br/helpline

Fontes: Programa Guardiões da Infância, da Polícia Federal, e Safernet

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