Apesar da melhora nos índices brasileiros para mortes violentas e registros de crimes violentos letais intencionais no País, segundo dados do Atlas da Violência 2025, do Mapa da Segurança Pública de 2024 e do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, o Pará tem registrado contrastes peculiares – que resumem um quadro que pode ser comparado ao de uma guerra, vivenciada por agentes da área de segurança pública e a população do Estado. Hoje, ao mesmo tempo em que ocupa o quinto lugar na taxa de mortes causadas por intervenções policiais no Brasil, segundo dados de 2023, o Pará também registra a segunda posição no ranking nacional dos estados com maiores números de mortes de agentes de forças de segurança em campo e também fora do horário de trabalho.
Intervenções policiais
Segundo o Mapa da Segurança Pública de 2025, o número de mortes violentas resultantes da ação de agentes públicos como policiais teve uma redução de 4,02% no Brasil, nos dois últimos anos. Em 2023, foram 6.391 vítimas, enquanto em 2024 foram 6.134 casos registrados em todo País. Apenas em 2023, a média foi de 17,4 intervenções de agentes de segurança, por dia, com resultados em vítimas fatais no Brasil. A taxa de mortes motivadas por intervenções da polícia foi de 3,14 mortes para cada 100 mil habitantes no Brasil – um número menor que a taxa de 2022, que é de 3,17, mas é superior à taxa de 2021, quando 3,04 registros para cada 100 mil habitantes eram computados.
Nesse cenário, porém, o Pará se destaca na quinta posição, com um índice de 6,5 mortes para cada 100 mil habitantes – o dobro da média nacional registrada em 2023. A lista dos estados com maiores taxas de mortes por intervenções policiais no Brasil, em 2023, também incluem o Amapá (1º colocado, com taxa de 25,35 mortes para cada 100 mil habitantes, índice 661% superior à média nacional), a Bahia (2º lugar com índice de 12,03 mortes), Sergipe na terceira colocação (taxa de 10,36) e Goiás (4º colocado), com índice de 7,33 mortes a cada 100 mil habitantes provocadas pela ação de agentes públicos como policiais em 2023.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública monitora as mortes decorrentes de intervenções policiais no Brasil desde 2013, em ocorrências que presumem o chamado excludente de ilicitude – ou seja, quando se faz uso da força letal de estado por necessidade, em legítima defesa, ou em estrito cumprimento de dever legal e no exercício regular de direito. Desde então – e até 2023, o crescimento no número de pessoas mortas foi de 188,9%, com mais de 6.393 vítimas registradas apenas em 2023.
Em números absolutos, o Pará se destaca no quadro nacional, em terceiro lugar, com 525 mortes registradas em intervenções policiais apenas em 2013 – ficando apenas atrás da Bahia, estado que registrou o maior número de vítimas (1.699 mortos) em intervenções de forças de segurança, e do Rio de Janeiro, que ocupa a segunda posição, com 871 vítimas. Porém, o Pará também acompanhou a queda no Brasil para mortes decorrentes de intervenção policial (em serviço e fora de serviço): foram 623 os casos registrados no Estado em 2022.
Mortes de agentes
Por outro lado, o número de policiais que perderam suas vidas de forma violenta em todo o Brasil, de forma geral, também caiu em 2023. Ao todo, foram 187 agentes nesse último ano compilado – 3 a menos que em 2022, e 7 a menos que em 2021. Esse dado, que inclui, além das mortes ocorridas em serviço, também aquelas em que os agentes estão de folga, significa uma leve queda, de 1,58%, na comparação com 2022. Na média, isso significa que 0,51 agentes de segurança pública perderam suas vidas no Brasil, a cada dia de 2023.
No Pará, porém, essas mortes não recuaram – foram 24 mortes de policiais registradas em 2022 e mais 29 casos em 2023, uma alta de 20,83%, aponta o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024. Em 2023, o Pará só ficou atrás do Rio de Janeiro (51 mortes). Em 3º lugar, figurou São Paulo (28 mortes), seguido por Pernambuco (13 mortes) e Bahia (11 mortes). Nos dados por região, o Sul registrou o maior aumento de mortes de agentes do estado, com alta de 75% na comparação com 2022, passando de 8 para 14 mortos. No lado oposto, a região Nordeste foi a que mais reduziu, com queda de 16,95% – passando de 59 mortes desse tipo, em 2022, para 49, em 2023.
Entre regiões, o Sudeste concentrou o maior número de mortes de agente do estado, com 82 agentes mortos em 2023, equivalente a 43,9% de todas as mortes desse tipo registradas no país. E por outro lado, o Centro-Oeste concentrou o menor número de mortes do tipo – 3, o que equivale a 1,6% do total nacional.
Segundo dados da última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2024) sobre a vitimização de policiais no País, em 2023 foram registrados ainda 118 suicídios de agentes do estado – uma alta de 26,2% em relação a 2022. Além disso, 127 policiais foram assassinados em todo o Brasil (queda de 26,2% em relação a 2022), e desses, 57% morreram fora do horário de serviço.
Pará é destaque entre mortes violentas intencionais
Na série histórica das Mortes Violentas Intencionais de todas as unidades Federação, entre 2011 e 2023, o Pará mais que dobrou a média de ocorrências registradas a cada ano. Passou de 1.269 casos registrados em 2011 para 3.018 casos em 2022, e depois teve queda para 2.662 registros em 2023 (redução de 11,8%, em uma ano, acima da média nacional, que teve queda de 3,4% para o período).
Ainda assim, o Pará figurou, em 2023 na sétima posição entre as maiores taxas de Mortes Violentas Intencionais Brasil, entre todas as unidades da Federação, com índice de 32,8 registros para cada 100 mil habitantes – ficando atrás apenas do Ceará (35,4); do Amazonas (35,6); de Alagoas (38,5); de Pernambuco (40,2); da Bahia (46,5) e do Amapá (69,9).
Entre seus 144 municípios, o Pará também soma 128 cidades (88,9%) com taxas de mortes violentas intencionais acima da média nacional (que é de 22,8 registros para cada 100 mil habitantes, em 2023).
Entre as sete grandes regiões intermediárias do Pará, que são as de Redenção, Altamira, Marabá, Castanhal, Belém, Santarém e Breves – conforme modelo de divisão regional constituído em 2017 pelo IBGE, e que corresponde a uma escala intermediária entre as Unidades da Federação e as Regiões Geográficas Imediatas, o território brasileiro está organizado em 134 regiões intermediárias que incorporam todos os municípios brasileiros -, estão nessa situação 15 municípios de Redenção (56,3 mortes violentas intencionais para cada 100 mil habitantes); 9 municípios de Altamira (taxa de 50,2 mortes para cada 100 mil); 23 de Marabá (40,8 mortes para cada 100 mil); 39 de Castanhal (taxa de 34,5); 23 municípios ligados a Belém (com taxa de 28,7 mortes violentas intencionais para cada 100 mil habitantes) e 19 a Santarém (taxa de 24,6).
Apenas 16 municípios do Estado, da região intermediária de Breves, têm taxas de 18,8 mortes violentas intencionais para cada 100 mil habitantes, abaixo da média brasileira, aponta balanço do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2024.
Se o total de mortes violentas intencionais do Brasil caiu 27,7% entre 2017 e 2023, o mesmo não se pode dizer das mortes decorrentes de intervenção policial, que no País cresceram 23,4% no mesmo período.
Embora o Brasil tenha conseguido reduzir o total de registros de mortes violentas intencionais, a letalidade policial tem representado uma parcela com aumento muito significativo nesses registros. Em 2017, as Mortes Decorrentes de Intervenção Policial representavam 8,1% do total das violentas intencionais no país. Em 2023, essa participação cresceu 70,7% e alcançou 13,8% de todos o registros de mortes violentas intencionais.
O Pará está entre os seis estados brasileiros que tiveram aumentos nos números totais de policiais civis e militares vítimas de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) em 2023, em relação a 2022, ao lado de Mato Grosso (200%), Amazonas (100%), Paraná (100%), Maranhão (66,7%) e Ceará (12,5%), o Pará teve alta de 17,6% nesses registros, em um ano. No Brasil, ao contrário, a média apontou queda de 18,1% nessa taxa.
Mortes violentas por ações policiais no Brasil
2023 – 6.391 vítimas
2024 – 6.134 vítimas
Taxa de mortes por intervenção de policiais no Brasil, em 2023
1º – Amapá – 25,35
2º – Bahia – 12,03
3º – Sergipe – 10,36
4º – Goiás – 7,33
5º – Pará – 6,50
Mortes violentas de policiais no Brasil em 2023
1º – Rio de Janeiro – 51 mortes
2º – Pará – 29 mortes
3º – São Paulo – 28 mortes
4º – Pernambuco – 13 mortes
5º – Bahia – 11 mortes
Mortes violentas de policiais no Pará
2022 – 24 mortes de policiais
2023 – 29 mortes de policiais
Alta de 20,83%
Fonte:
SINESP (2024) / Atlas da Violência 2025 / Mapa da Segurança Pública de 2024 / Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024
Com Informações: O Liberal