SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira que “em uma ou duas semanas” será possível dizer se o esforço liderado por ele para acabar com a Guerra da Ucrânia vai funcionar.
Se der certo, afirmou estar pronto para ajudar a Europa a dar garantias para que a Rússia não volte a invadir o vizinho. Por outro lado, voltou a dizer que haverá trocas territoriais, ou seja, perda para Kiev.
“Pode dar certo ou não, mas temos de dar nosso melhor”, afirmou em frente do ucraniano Volodimir Zelenski e de seis líderes europeus convocados à Casa Branca para uma cúpula em miniatura, três dias após o republicano receber Vladimir Putin para uma cúpula no Alasca.
O encontro marcou a volta de Zelenski à Casa Branca quase seis meses depois do humilhante episódio em que ele foi pressionado publicamente por Trump e o vice-presidente J. D. Vance, que o acusavam de não querer a paz com a Rússia, país que invadiu a Ucrânia em 2022.
Desta vez, o clima foi calculadamente amistoso, com Zelenski todo sorrisos e palavras gentis na abertura do evento, quando falou diretamente com o americano. Alguém descobriu que Trump não gosta de ser contraditado.
O ucraniano levou consigo uma tropa de choque da Europa, temerosa do fato de que o republicano voltou a repetir a retórica do Kremlin para o fim da guerra. Mas todos foram recebidos em uma reunião ampliada, cerca de uma hora depois que Trump e Zelenski conversaram a portas fechadas, ao contrário do que queria o ucraniano.
Foram à Casa Branca os líderes Friedrich Merz (Alemanha), Emmanuel Macron (França), Giorgia Meloni (Itália) e Alexander Stubb (Finlândia), acompanhados pelo secretário-geral da Otan, Mark Rutte, e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Das declarações do americano foram tiradas confirmações do que circulou desde o Alasca. Trump reiterou que Putin aceitou pela primeira vez que os EUA deem algum tipo de garantia de segurança para a Ucrânia após o fatiamento do país, talvez de forma análoga ao artigo 5 da carta da Otan, que prevê defesa mútua em caso de ataque a qualquer 1 dos 32 membros da aliança militar.
Turmp disse que os EUA iriam “dar boa proteção” a Kiev e, questionado se isso incluiria o envio de tropas, disse genericamente que nada está descartado. Pelo sim, pelo não, o Kremlin reafirmou que não aceitará tropas ocidentais em solo ucraniano, como já é sabido.
A Zelenski foi apresentado um prato feito de perdas territoriais, mas ele insistiu que discutir o tema só pode ser debatido nas propostas conversas trilaterais entre ele, Trump e Putin. Resta combinar com o russo, claro, que já descartou isso antes.
O americano disse, aí na parte aberta do encontro já ampliado, que buscaria a reunião trilateral com Putin, com quem conversaria após a discussões dessa segunda. “É uma questão de quando, não de se”, afirmou, sobre a realização do encontro.
Macron foi enfático ao dizer que apenas com os três à mesa será possível avançar. Defensor de uma inviável, do ponto de vista de Moscou, força de paz europeia na Ucrânia, ele se limitou a dizer que é necessário haver “um Exército crível” no país, rejeitando assim a ideia de limitar as forças de Kiev.
Desde sexta, Trump vem sendo criticado por ter adotado os termos do russo acerca não só das inevitáveis perdas da Ucrânia, que já tem 20% de seu território ocupado por Moscou, mas também por abandonar a ideia de um cessar-fogo imediato.
“Estrategicamente pode não ser bom para os dois lados. Eu não acho que seja necessário um cessar-fogo”, disse, repetindo a retórica de Putin -até aqui, Zelenski defendia a trégua primeiro, para depois conversar.
Ainda assim, o alemão Merz colocou o dedo na ferida, num raro momento de dissonância. “Os passos mais complicados vêm agora. Para ser honesto, gostaria de ver um cessar-fogo já a partir do próximo encontro. Vamos colocar pressão na Rússia. A credibilidade do nosso esforço depende disso”, afirmou.
O encontro foi precedido de grande apreensão por parte dos ucranianos e seus aliados europeus, cientes de que Trump voltou a se alinhar a Putin acerca do conflito.
Antes da reunião, os alertas foram acesos a partir de uma postagem de Trump na rede Truth Social. “O presidente Zelenski pode acabar a guerra com a Rússia quase imediatamente, se ele quiser, ou pode continuar a lutar. Lembre como ela começou. Não ganhará de volta a Crimeia dada por Obama (12 anos atrás, sem um tiro dado!), e SEM ENTRADA NA OTAN DA UCRÂNIA”, escreveu.
A postagem trouxe à tona a memória de quando Trump recebeu Zelenski na Casa Branca pela primeira vez, em fevereiro. Ao lado de auxiliares e de Vance, ele armou uma armadilha para o ucraniano, acusando-o de ter causado a invasão russa de 2022 e de não querer acabar com a guerra.
O bate-boca público, um desastre para Kiev, foi depois remendado aos poucos, com o americano adotando uma crescente posição de neutralidade e passando a pressionar Putin, com o paroxismo de um ultimato que venceu no dia 8 passado e foi esquecido.
Só que, a julgar pelas entrevistas posteriores de Trump, era tudo teatro. Ele disse no fim de semana que não pretendia implementar as sanções que havia ameaçado se o russo não parasse a guerra até aquela data, porque isso determinaria seu fracasso em lograr uma trégua.
O mais importante, do ponto de vista da possibilidade de uma acomodação, é que o encontro parece ter corrido bem, ao menos por sua faceta pública.
“Nós vamos parar essa guerra. A guerra vai acabar, esse senhor [Zelenski] quer, Vladimir Putin quer”, afirmou o republicano na abertura do encontro, pouco antes das 13h20 (14h20 em Brasília).
O clima era de muita cordialidade, nada parecido com o bate-boca de 28 de fevereiro. “Muito obrigado pelos seus esforços”, disse Zelenski, entre algumas brincadeiras sobre desta vez estar de paletó, e não a roupa militar criticada antes por Trump.
O ucraniano também agradeceu à primeira-dama Melania Trump por ter entregado uma carta a Putin durante a cúpula realizada na sexta-feira passada (15) no Alasca, no qual ela pedia o fim da guerra em nome das crianças afetadas. E deu ao americano uma mensagem escrita por sua mulher, Olena
Do outro lado da sala, contudo um correspondente da rede BBC notou a presença de um mapa da Ucrânia com as áreas ocupadas pela Rússia, cerca de 20% do país, destacadas. Zelenski depois viria a brincar com o fato: “Obrigado pelo mapa, aliás”, disse a Trump em frente dos aliados.
Putin sugeriu que aceitaria trocar o congelamento das linhas de batalha nas duas regiões do sul ucraniano nas quais controla 70% do território, Kherson e Zaporíjia, em troca da entrega definitiva de Donetsk (leste), onde também tem 70% de domínio e está em ofensiva.
A quarta região anexada ilegalmente e que faz parte do pacote colocado por escrito pelo Kremlin, Lugansk (leste), já está totalmente controlada por Moscou. Pela proposta de Putin, ele ganharia 6.600 km2 remanescentes no leste em troca de desocupar 440 km2 que tomou das regiões de Sumi e Kharkiv, no norte, que não estão na sua lista de desejos.
No domingo, Zelenski admitiu discutir a situação a partir das linhas atuais da frente de batalha, que tem mais de 1.000 km. Mas voltou a dizer que não poderia ceder território constitucionalmente, o que joga dúvidas sobre o destino da negociação.
A neutralidade militar da Ucrânia e o destino da península russófona da Crimeia, que Putin anexou na verdade há 11 anos após ver seu aliado derrubado da Presidência em Kiev, pelas palavras de Trump, já são um fato consumado na proposta à mesa.
Fonte: Notícias ao Minuto