Uma antiga lenda urbana ainda assombra e intriga moradores da Cidade Velha e do entorno do centro histórico de Belém. Por baixo de construções centenárias como a Igreja do Carmo, o Colégio do Carmo, a Praça do Carmo e outros monumentos, haveria uma rede de túneis subterrâneos secretos, que conectariam não apenas essas estruturas entre si, mas também outras igrejas e colégios tradicionais da cidade — como a Igreja da Sé, a Basílica de Nazaré e os colégios Gentil Bittencourt e Nazaré.
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A Igreja de Nossa Senhora do Carmo, a mais antiga de Belém e da Amazônia (datada de 1626), é apontada como o marco inicial desse sistema subterrâneo. De acordo com relatos antigos e testemunhos de moradores, os túneis foram escavados ainda no período colonial e serviriam a diferentes propósitos: de rotas de fuga para escravizados protegidos por religiosos, até ligações estratégicas criadas por europeus durante o Ciclo da Borracha para defesa militar.
Fragmentos do passado (e do mistério)
Durante escavações para a construção de um banco na avenida Presidente Vargas, parte dessas estruturas foi descoberta — mas com trechos já comprometidos e sem destino conhecido. Há ainda o registro não oficial de funcionários do Colégio do Carmo que afirmam ter cruzado portas secretas nos subterrâneos da escola, adentrando por corredores de pedra antigos, já em ruínas ou alagados, que levam até a praça.
O escritor paraense Walcyr Monteiro chegou a narrar em suas obras as histórias sobre esses túneis escondidos. Segundo ele, haveria ligações entre as principais igrejas do centro e colégios tradicionais. Porém, oficialmente, nenhuma autoridade confirma a existência de tais estruturas. O acesso a esses locais é terminantemente proibido — e esse silêncio, segundo moradores, alimenta ainda mais o mistério.
Boiuna: a cobra gigante que protegeria os túneis
Um dos mitos mais conhecidos ligados aos túneis é o da Cobra-Grande, ou “Boiuna”, uma criatura adormecida nos subterrâneos de Belém. A lenda diz que a cabeça da cobra repousa sob a Basílica de Nazaré, o corpo se estende até o Ver-o-Peso e a cauda termina na Igreja da Sé. O dia em que ela acordar, Belém afundaria, tragada pelas águas da baía do Guajará.
A criação dessa lenda, inclusive, teria servido como uma forma de espantar curiosos e impedir o acesso aos túneis reais, ajudando a manter o mistério e o temor popular ao redor dessas construções.
Com o passar dos anos, documentos foram perdidos, a empresa responsável pelas supostas escavações foi desativada e não há planta oficial de toda a rede. Hoje, saber com exatidão o tamanho e o propósito desses túneis é praticamente impossível.
O que restou foram os fragmentos da memória popular, os relatos sussurrados entre moradores antigos e o medo transmitido de geração em geração. O complexo do Carmo continua fechado ao público, sob forte vigilância das instituições religiosas — e o mistério permanece vivo, como os fantasmas que dizem vagar por ali à noite.
Com Informações: Para Web News