Guerra nuclear pode extinguir a humanidade em 72 minutos, entenda

IGOR GIELOW- (FOLHAPRESS) - Autora do best-seller "Guerra Nuclear - Um Cenário", a jornalista americana Annie Jacobsen é pessimista. Para ela, a vulgarização do debate acerca do emprego dessas armas empurra o mundo para um abismo aberto pela primeira explosão atômica, que completa 80 anos no dia 16.

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"A guerra nuclear termina de uma única maneira, a aniquilação nuclear", disse ela por telefone à Folha de São Paulo, de Los Angeles, onde trabalha também como roteirista de seriados populares de temas de segurança, como "Jack Ryan".

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A veia pop é forte em "Guerra Nuclear", que chega ao Brasil pela editora Rocco (352 págs., R$ 99,90) um ano após ser lançado. O livro já foi editado em 28 países e deve virar filme nas mãos de Dennis Villeneuve ("Duna") a partir do fim deste 2025.

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Como um thriller sem personagens nomeados, um cenário em que o mundo como conhecemos acaba em 72 minutos a partir do lançamento "do nada" de uma ogiva nuclear pela Coreia do Norte contra os Estados Unidos. A morte de bilhões e a inviabilização do planeta por 24 mil anos são descritas de forma crua.

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Jacobsen, 57, defende o cenário, visto como irrealista por alguns especialistas. Para ela, o que importa é que as condições para a tragédia estão dadas: se parece improvável que os EUA lançassem mísseis sobre a Rússia para atingir Pyongyang, causando a escalada fatal, argumenta, isso está nas regras.

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Ela não usa dados secretos e entrevistou 46 autoridades e pesquisadores para explicar a autoridade total de indivíduos como Donald Trump ou Vladimir Putin de destruir o planeta.

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Jacobsen crê que escrever de forma atrativa é vital hoje, quando a Rússia joga com a carta nuclear na Guerra da Ucrânia, o Ocidente morde a isca, isso para não falar de Irã-Israel, Índia-Paquistão e de Kim Jong-un.*Folha - Desde que a sra. lançou seu livro, tornou-se lugar comum falar em emprego de armas nucleares, pela Rússia, pela Otan. Isso é tratado de forma algo leviana, não?

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Annie Jacobsen - Totalmente. Acho que mostro que, certamente de acordo com o Departamento de Defesa, não importa como uma guerra nuclear comece, ela termina de uma única maneira: a aniquilação nuclear total.

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Folha - Como a sra. vê o risco atual?

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Annie Jacobsen - Vou citar o secretário-geral da ONU, António Guterres, que disse que estamos a um erro de cálculo de distância da aniquilação nuclear. Parece que continuamos marchando para mais perto dessa linha que nunca deve ser cruzada.

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A discussão sobre armas táticas [teoricamente limitadas ao campo de batalha] é aos meus olhos absurda. É surreal. Uma arma nuclear é uma arma nuclear, e seu uso só termina com o armagedom. Eu escrevi o livro para demonstrar isso em detalhes chocantes.

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Folha - Um ponto criticado no livro é que o cenário é realmente o pior possível em todas as etapas. Por que os americanos usariam mísseis voando sobre a Rússia contra a Coreia do Norte se há outros meios, mísseis lançados por submarinos ou por bombardeiros?

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Annie Jacobsen - Eu abordo isso, explicando que o presidente tem uma tríade à disposição. Mas a questão é: por que o presidente usaria 50 mísseis intercontinentais e 32 ogivas de submarinos, como eu o apresento?

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É simples. Essa é uma diretriz do Departamento de Defesa. Embora eu não tenha acesso ao conteúdo do Livro Negro [as opções de ataque dos EUA que só o presidente pode ordenar], entrevistei várias pessoas que têm. E pedi a elas que lessem o livro antes de sua publicação para ter certeza de que não estava incorreta em nenhum lugar.

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Essa é uma opção real para o presidente. Então, se isso foi mudado, não sei. O que sei é que o presidente Trump disse ter lido meu livro, então talvez ele tenha ou não mudado a fórmula.

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Folha - A sra. fala de regras reais, não de jogos de guerra, certo? Há quem diga que a sra. não entendeu a ideia dos jogos de guerra, que é trabalhar com extremos.

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Annie Jacobsen - Eu convido meus críticos a conversar com meus entrevistados. A maioria dos argumentos é de bravatas. Eu entrei nisso [na confecção do livro] sem saber nada. Aprendi com os 46 oficiais de defesa e conselheiros presidenciais listados o que eles sabem ser verdade.

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É um diálogo [com os críticos], sabe? E se isso trouxer mais atenção para este assunto, então acho uma coisa fantástica.

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Folha - A sra. mencionou Trump ter lido o livro. Tem alguma esperança de que ele tenha o mesmo efeito que "O Dia Seguinte" [filme sobre guerra nuclear nos EUA de 1983] teve sobre Ronald Reagan?

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Annie Jacobsen - Eu espero que sim. Reagan foi influenciado pelo filme, ficou muito deprimido e procurou [o líder soviético] Mikhail Gorbatchov. O atual presidente, ao contrário do anterior, está com a mente voltada para armas nucleares, para o que ele chama de desnuclearização. Chame do que quiser. Na verdade, é desarmamento em termos tradicionais.

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Folha - E o Domo Dourado [projeto de defesa antimísseis de Trump], que é uma espécie de volta ao Guerra nas Estrelas, não vai contra isso?

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Annie Jacobsen - Quando me pediram para falar sobre meu livro nas Nações Unidas, em março, perguntei àqueles que escreveram o novo Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares (TPAN) se você pode ter o Domo Dourado e também avançar com o desarmamento. Eles me disseram que sim. Eu sou jornalista, não ativista da paz ou do desarmamento, mas aprendi muito sobre o TPAN e o apoio.

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Folha - Mas em seu primeiro mandato Trump deu passos que foram vistos como imprudentes, como deixar o tratado de armas. Ele é confiável?

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Annie Jacobsen - Eu fico fora da política. Espero que o atual presidente mantenha o foco, como ele gosta de chamar, na desnuclearização. Se ele quiser ter o crédito por criar algo novo, isso é ótimo. Mas a arquitetura dos tratados é importante, e espero que ele siga com isso.

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Folha - Um dos aspectos mais assustadores de seu livro é que ele se baseia em informações de domínio público, sobre as quais as autoridades não falam.

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Annie Jacobsen - Exatamente. Parte dele é original e desconhecida, mas a maior parte está nos ombros de outras pessoas que vieram antes de mim. Me perguntam: "Annie, como você conseguiu informações sigilosas?".

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E, claro, ninguém pode me dar informação secreta. O que faço é juntar o drama narrativo de tudo isso. O fato de que um míssil intercontinental não pode ser chamado de volta é um fato básico que as pessoas ou não sabem ou esquecem. O mesmo sobre o tempo de lançamento para o alvo da Rússia é de 26 minutos e 40 segundos.

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Folha - Outro ponto controverso do livro é se o poder do presidente americano de lançar sob ataque, ou sob aviso de ataque, é opcional ou obrigatório.

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Annie Jacobsen - Sim, as pessoas podem argumentar sobre isso até o fim dos tempos, e são bem-vindas a isso, mas podemos ter uma guerra nuclear no meio do caminho. Gosto da citação de William Perry, que foi secretário da Defesa de Bill Clinton. Foi quem me disse que nós lançamos ao primeiro aviso. Não esperamos. Ponto final. Não está na Constituição, mas é a política. Jon Wolfsthal, que foi conselheiro de Barack Obama sobre armas nucleares, me explicou que eles tentaram muito se livrar disso e não conseguiram.

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Folha - A sra. argumenta sobre o absurdo da dissuasão nuclear. Dito isso, em 70 anos nós fomos poupados do desastre por causa da dissuasão, não?

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Annie Jacobsen - Sim, mas o fato de não termos tido uma guerra nuclear foi ou um milagre ou muita sorte. Não creio que se deva governar o mundo com sorte ou milagres. Um conflito se desenrolará em segundos e minutos, não em dias e horas. E a razão pela qual não escrevo um prelúdio para a guerra é apenas escrever como isso poderia acontecer.

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Folha - Por que a sra. escolheu o caminho de um thriller, dado que em se tratando de um tema técnico isso poderia atrair críticas para desacreditar o trabalho?

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Annie Jacobsen - Eu fiz entrevistas com o general aposentado [Claude Robert] Kehler, ex-chefe do Stratcom [Comando Estratégico dos EUA]. Eu questionei o que aconteceria em uma troca nuclear em grande escala entre a Rússia e os Estados Unidos. E ele me disse: "Annie, o mundo poderia acabar nas duas horas seguintes".

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Eu soube naquele momento [que deveria ser um thriller]. Então se tornou uma questão de eu fazer a engenharia reversa a partir daquele ponto devastador. É o meu sétimo livro, e sempre digo que escrevo não apenas para os generais, mas para as senhorinhas em Dakota do Sul, as pessoas comuns.

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Isso é algo que aprendi com meus entrevistados, porque meu cérebro não funciona em um nível tão alto quanto o deles. Tenho que dizer: "Por favor, explique-me como se eu fosse sua avó ou seu neto". E depois de conseguir uma risada, então recebo uma versão fácil de entender, e tento emular isso no meu trabalho.

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RAIO-X | Annie Jacobsen, 57

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Nascida em Middletown (EUA), a jornalista escreve sobre assuntos de segurança nacional e é roteirista de seriados como "Jack Ryan" e "Clarice". Foi finalista do Pulitzer em 2016 por "O Cérebro do Pentágono". É casada e tem dois filhos.

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Fonte: Notícias ao Minuto

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