Eu confesso: não sou exatamente fã de projetos de lei que concedem o título de cidadão honorário a quem nasceu em outra terra. Mas, boa parte do que somos — nossa história, nossa cultura, nosso desenvolvimento — nasceu do encontro entre paraenses natos e gente que veio de fora. Professores, artistas, empresários e atletas que, mesmo sem ter nascido aqui, ajudaram a escrever a nossa história.
Mas, nos últimos tempos, tenho observado uma enxurrada de homenagens que mais parecem disputas políticas do que reconhecimentos genuínos. Em vez de celebrarem feitos relevantes, viraram moeda de troca em palanques e narrativas maniqueístas. Cada lado defende seu “cidadão” como se fosse título de torcida organizada, e a troca de farpas ultrapassa o bom senso.
Por isso fiquei surpreso — e bastante incomodado — com a reação do vereador Zezinho Lima ao projeto que reconheceu Zeca Camargo como cidadão de Belém. Discordar de uma homenagem é legítimo, faz parte da nossa democracia. Mas usar palavras de baixo calão para justificar o voto? Isso, para mim, já ultrapassa a crítica e beira o desrespeito institucional.
Se há alguém que merece esse título, foi Zeca Camargo quem me fez enxergar Belém com outros olhos. Jornalista experiente, com passagens por grandes redações e programas de TV, ele rodou o mundo inteiro. Conheceu museus, monumentos, paisagens e pessoas de todos os cantos — e, ainda assim, sempre fez questão de voltar para cá, de falar bem da nossa cidade, de destacar nosso potencial turístico, gastronômico e cultural.
Eu sempre pensei: “O que faz um cara tão cosmopolita se apaixonar por uma cidade tão cheia de problemas estruturais?” A resposta está na sensibilidade de quem enxerga o valor do nosso jeito único, da nossa culinária amazônica e da nossa hospitalidade. Enquanto muita gente ainda se ressente da “síndrome de vira-lata” e menospreza as próprias águas, zamburis, teatros e praças, Zeca grita ao mundo que Belém é lugar de destaque — e o faz com propriedade, nomes e referências em rede nacional.
Mais do que meros stories rasos de influencers que nunca pisaram no Ver-o-Peso, os textos e reportagens de Zeca têm alma. Ele conhece cada detalhe, cada tempero, cada tradição — e celebra isso sem medo de mostrar nossas contradições. Ele faz questão de vir, de ficar, de mergulhar na cultura regional.
Por isso, defendo com todas as letras: Zeca Camargo é o mineiro mais paraense que existe. Conceder-lhe o título de cidadão de Belém não é apenas um gesto simbólico, é um reconhecimento a quem escolheu amar a nossa terra não por obrigação, mas por genuína paixão. E essa escolha merece respeito — e aplausos.
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Com Informações: Para Web News
